terça-feira, outubro 17, 2006

Prémio Nobel da Medicina 2006 / Desligar o cromossoma do amor / Francesco Alberoni


Craig C. Mello, luso descendente, foi galardoado com o Prémio Nobel da Medicina, juntamente com o seu colega Andrew Fire pela "descoberta do mecanismo fundamental para o controlo dos fluxos de informações genéticas".
A propósito deste prémio de extrema importância, na revista do DN de 6ª feira passada, tive oportunidade de apreciar um dos artigos mais interessantes escritos nos últimos tempos sobre o amor vs a sua ausência.
Parece nada ter a ver um assunto com outro mas depois de ler atentamente o artigo percebi onde o autor queria chegar.
Pedro Cunha e Silva assina o artigo e escreve-o a propósito das comemorações dos 650 anos da morte de Inês de Castro, assissinada devido aos seus inconvenientes "excessos" amorosos, comemorações essas que se iniciaram em 2005 e que agora terminam.
Esta bela história de amor é um mito intemporal mas igualmente contemporâneo e progressivo e
Inês de Castro não terá morrido de amor nem por amor, como tantas vezes se crê, mas por causa do amor.
Num exercício de cruzamento dos dados históricos deste amor proibido, com as modernas teorias genéticas, o autor do artigo especula se as mesmas não poderão ter já identificado o cromossoma do amor.
Afirma, a dada altura, que se aceitarmos que existe tal cromossoma, todas as nossas células terão uma capacidade nuclear para amar.
A descoberta ciêntifica que terá sido agora distinguida com o prémio nobel da medicina, demonstrou que existe um processo associado à actividade de uma molécula, o RNA de Interferência, que é responsável pela inibição/destruição do mensageiro quando a mensagem do RNAm, ou mensageiro, não é conveniente.
Isto significa que nem todas as células estarão disponíveis para amar, ficando assim inibidas quando tal não interessa.
Inês de Castro, ao amar D Pedro, rejeitou activar no seu material genético a molécula da interferência, entregando-se desta forma a todos os excessos da paixão, permitindo que o seu potencial celular amasse em uníssono.
Esta dissertação de Cunha e Silva fez-me pensar que, nos dias que correm, devemos ter todos ou quase todos, o nosso RNAi ligado ao máximo, em quadrifonia, em ondas de radar ultra-potente, pois assiste-se a uma total inexistência do amor celular e nuclear, em que a todas as nossas células fosse permitido amar e entregar-se aos voos da paixão e do amor.
Parece que já não nos permitimos viver amores em que o objecto da nossa paixão seja totalmente personalizado e único e não despersonalizado, inodoro, asséptico e banalizado como o que assistimos nos dias que correm.
Também sobre esta questão vale a pena ler algumas das obras de Francesco Alberoni, senão todas, que desde 1979 vem revolucionando esta temática com os seus livros e a sua abordagem aberta.
Estou a ler o último, ainda inédito no nosso país, e certamente voltarei a estes assuntos em breve.

2 comentários:

Anónimo disse...

Hum... acho que o AMOR não entra nestas coisas do ciêntifico... seria demasiadamente fácil... Liga e desliga.... Agora quero... Agora não!!!!
Não amamos quem queremos... nem quando queremos.... simplesmente acontece.... ou não!!!!!
Amamos, sempre sem medida!!!!!!

Shaktí disse...

Fernando: quem ama ou amou sabe do que fala, mas somos seres eminentemente orgânicos com muito para descobrir. Quem diria que partilhamos tanto ADN com outras espécies animais? Por isso não sejamos tão fundamentalistas em questões ainda por descobrir.