sexta-feira, junho 23, 2006

Vai-me ao blog…!

Isto de ter um blog, cá para mim, é coisa fina. Que o digam os meus amigos que agora levam incessantemente com a minha novissíma frase favorita, logo de manhã: - Olha vai-me ao blog…! Não sei quanto mais tempo eles e elas vão aguentar tanta pedinchisse… sim, porque os amigos são para as ocasiões, mas quando esta frase foi editada, não havia blogges a polular como cogumelos pela net fora.
De qualquer forma ele aqui está, redondinho e cheiroso, venenoso talvés, de vez em quando, mas sempre proactivo.
E por falar em proactivo, gostaria de partilhar convosco algo que, me parece, ando a perder tempo a ler… acontece aos melhores.
Mas para mim, leitora compulsiva, que não dispensa ler, seja lá o que me vier parar às mãos, mesmo numa breve passagem de olhos, sejam os folhetos dos supermercados a tratados de física quântica, ler é mesmo "the last frontier", qual Star Treck em formato de esponja.
Desta feita tenho em mãos, além de outras coisas, um tratado filosófico-comportamental de um obscuro guru nascido na Bulgária no início do século XX. O livrito trata da linguagem das figuras geométricas… interessante, pensei eu, do alto da minha imensa vontade de conhecer coisas novas.
Porém, ao fim de algumas páginas, a minha angústia foi surgindo e crescendo, ao mesmo tempo que me ia inteirando do significado dado, por este mestre, do significado do número 10.
Diz então o mestre Aïvanhov que o número 10 corresponde ao místico símbolo do círculo com um ponto no centro. Estão a ver?… há, ok… só conheço gente esclarecida, abençoados.
O mestre informa que o cículo é a representação feminina, periférica e o 1 a masculina, central. Até aqui muito bem, eles como dadores, nós como receptáculos, interactivos, simbióticos mas ambos importantes.
O relato passa a ser tenebroso quando ele diz que o espírito de Deus é o princípio masculino, o 1, que penetra a matéria desorganizada, o círculo, portanto.
E vai acrescentando que o princípio feminino é disforme e sem vida, representa o caos e a desordem, e apenas e só depois de tocada pelo "organizador do universo", o 1, masculino, se torna aflorada, animada, trabalhada pelo espírito.
Diz também que o circulo não se deve nunca apartar do 1 sob pena de se transformar num àrido deserto, infértil, sem espírito, mas, condescende, o círculo é o infinito que tudo engole, capta, recebe.
Decerto este mestre, já falecido, portanto sem se poder pronunciar, desconhecia os princípios sensoriais, matriacais e desrepressores, revestidas de carácter tantrico, de outras filosofias comportamentais que não necessitam de apelar a um suposto e muito discutível ser supremo.
Não obstante vivermos sob o controlo, menor ou maior, de um mundo patriarcal e repressor, vou-me permitir discordar deste insólito guru búlgaro, que, provavelmente, só eu ouvi falar, na medida que não entendo que algum elemento, geográfico ou não, representativo do feminino, possa ser olhado e dissecado como tão passivo, tão pouco susceptível de, sem o elemento masculino, se revestir de carácter actuante.
Discordem ou concordem, comigo ou com esse guru, prefiro pensar que esta divina comédia de saltos altos que são as mulheres, significa não um final mas sim um principiar de tudo.

E será que os sucessivos primeiros ministros de Inglaterra sabem que se alojam num número tão susceptível a polémicas?!...
Manhãs

Pelos jardins escoam-se os olhos
transparentes
como janelas de casas
em subitas visões de artista

No céu antes borrifado de estrelas
passeiam-se visões de caminhantes
Faz frio... foram os aguaçeiros
não se ouvem nem as àrvores
tocadas ao de leve pelo vento

Cheira-me o ar a fogo
cobrindo os corpos de solidão
na escuridão ténue do estio

Espero tolhida, engelhada
que o próximo sol afugente
a negragem desta noite
para lavar os sentidos
e pentear os cabelos

Sabe-me a boca a ferrugem
cuspo o pano crú, a essencia
de tanto morder o lençol

Mas eis já láctea que chega
a manhã feita camélia
pálida escrava da Lua
a dar-me beijos sem ruído

De chorar se cansaram
os olhos lívidos dos jasmins
e agora que se erguem os ciprestes,
cristais de sorrisos
vão iluminando as àrvores escuras.

Já bendigo o vento Norte
que beija levemente as flores,
as flores na minha pele
nestas manhãs brumosas,
airosas como pequenas ruas
onde vagas de ilusão
inundam roxas os meus lábios.

Lx 29/07/1990



quinta-feira, junho 22, 2006

Divina Comédia Em Saltos Altos

Aqui estou eu a estrear o meu blog... hummm que sensação! Algo novo, parece um par de cuequinas acabadinhas de comprar, aquelas que ando a namorar há semanas... comentário de gaja... claro!
Ontem, dia 21 de Junho, foi assinalado mais um solestício de Verão, o dia mais longo do ano... logo a noite mais pequena... logo não me agrada nada.
No meu bioritmo o dia nunca marcou pontos, só as noites... costumo dizer que apenas sei como aqueles começam e desejar que estas últimas sejam muito preenchidas...
O que quero deste espaço é falar, falar, falar (leia-se escrever)... ah ok, ouvir também, ou ler, bem entendido.
O espaço não interessa a ninguém apenas a mim e aos distantes e simpáticos habitantes da Galáxia Andromeda, ali para os lados da estrela Centauri Prime ... se não sabem onde fica, é porque não são de lá, nem se mudem para lá agora.
Aparentemente estão em rota de colisão e no universo as colisões entre galáxias envolvem uma quantidade extraordinária de matéria e uma eternidade, na escala humana, para que se concluam.
É algo parecido com o nosso desejo de seremos aumentados no final de cada ano, parece que nunca mais chega e quando chega, para quê aquele tempo todo a aguardar se não vemos nada de jeito a acontecer?!...
O que me leva a pensar que o infinitamente grande também existe no infinitamente pequeno e, como diria um famoso microscopista do século XVIII, Bonnet, "a Natureza pode trabalhar com tamanhos tão pequenos quanto bem entender".
Nós, aqui da Terra, somos pequenos, e não falo apenas de alturas, antes me detenho nas nossas aspirações, nas esperanças, nas expectativas e só nos resta, muitas vezes, debatermo-nos neste fato de macaco que a supra citada Mãe Natureza nos destinou, e fazer o melhor possível... ou não...
Ainda pedindo emprestados os conceitos do simpático Bonnet, ele insistia para que não restringissemos as possibilidades infinitas da Natureza com os limites óbvios dos nossos sentidos e dos nossos instrumentos... interessante, não acham?...