A frase não é minha é do grupo pop "The Rapture" ( http://www.piecesofthepeoplewelove.com/ ) e escolhi-a por uma razão de semântica da palavra "pieces" e que imprime um sentido diferente às outras palavras todas .
Isto porque a ideia seria escrever sobre os pedaços, bocados, peças, particularidades das pessoas que amamos: os nossos amigos, familiares, namorados/as, e por aí fora. A palavra em inglês aos meus olhos e ouvidos soa com a intenção absolutamente certa relativamente ao que quero dar a entender neste post.
As pessoas que amamos e as suas coisas particulares, a sua voz, a sua maneira de estar, de andar, o gargalhar ou apenas o sorriso, o cabelo, as mãos, os olhos e olhares ou ainda de forma mais abstracta, os seus pensamentos, ideias, opiniões, colocações perante a vida, os seus ideais, as suas esperanças, as suas vivencias, as quais fazem delas, de cada uma e de todas elas, um universo particular.
Tenho amado algumas pessoas em toda a minha vida, umas quantas de forma intensa, poucas felizmente, mas gosto de todas as que me têm tocado de perto, algumas de forma menos positiva, não obstante revelam-se sempre com alguma utilidade de carácter estruturante.
Algumas características das pessoas são, no meu caso particular, decisivas para as entender. Desde logo a voz, algo que nos vem de dentro do corpo, que é sempre diferente e que me cativa ou repele de forma quase inexplicável. Depois a forma como a pessoa se expressa, independentemente de concordar com as suas ideias ou não, a maneira como a voz se enrrola nos pensamentos, ou como as palavras são ditas, a intenção nelas colocada, o "corpo" que a voz tem, o timbre, marcam a pessoa como uma impressão digital.
A seguir a profundidade do olhar, a maneira como a cor dos olhos preenche o globo ocular, a limpidez, a colocação destes orgãos no rosto da pessoa, a comunicação de caracterologia quase lombrosiana entre a parte superior e inferior do rosto, revela um pouco o carácter e a estabilidade da personalidade do indivíduo. Nada tem a ver com beleza física, apenas com uma noção "privatizada" de equilíbrio.
Não posso esquecer a textura da pele e as mãos, não propriamente se são bonitas ou vulgares, mas a forma como elas bailam à volta da pessoa. É para mim como os enfeites na àrvore de natal; a àrvore sempre existirá contudo os enfeites dão-lhe um encanto todo especial. O ballet das mãos, a postura dos dedos, a forma como completam todo um cenário de orquestração musical com o resto do corpo distingue as pessoas de forma indelével.
Por último a forma de andar que nada tem a ver com um caminhar de passerelle, antes um cunho pessoal que, no meu entender, posiciona a pessoa no espaço que o rodeia e perante os demais. O andar de alguém sugere a sua energia e a noção que tem do seu campo gravitacional.
Todos estes meus gostos podem indicar que dou demasiada importância à aparência das pessoas. Nada mais se afasta da realidade. Por isso escolhi a palavra "pieces" porque, com estas noções, é minha ideia olhar os outros como peças de um puzzle, mas também destrinçar-lhes os bocados da alma que assim expostas dão-me pistas do seu ser, do seu estar.
Por estas e outras razões todos, ou quase todos, os meus amigos e amigas, são cheias/os de singularidades que não encontro em mais lugar nenhum. Digo lugar porque todos nós somos um lugar, somos um país de nós mesmos, sede da nação das nossas almas, estamos e assim ficamos não onde nos colocaram mas para onde decidimos ir, porque para lá caminhamos, sempre em movimento.
Como ilustração digo que os olhos azuis da minha amiga Sofia revelam a alma que a habita, o leve babolear do meu amigo Pedro denunciam a atitude pacífica em tudo e para com todos, a posição das covinhas no rosto do meu amigo Rui espelam a sua inteligencia e sagacidade, o porte altivo da minha irmã E., a sua atitude de rainha subjugando o mundo com o seu frio encanto, o olhar de cachorrinho abandonado do meu amigo Marco revelam a sua imensa carência de afecto, a gargalhada contagiante da minha grande amiga Marta, denuncia a sua força de vontade, o leve arquear das costas de um outro meu amigo revelam alguma subjugação ao mundo que o rodeia e à vontade dos demais, e tantos outros mas não me alongo que a lista seria interminável.
Eu e este cabelo rebelde, entidade própria que devia pagar impostos e ter BI, revelam por demais a minha repugnância às circunstâncias algo inextricáveis da vida e a minha conexão aos princípios da liberdade, o meu andar um pouco felino dá uma noção do meu carácter observador e analítico.
Digam-me, estimadissímos leitores e comentadores deste blog, o que os move e motiva nas pessoas que conhecem, o que lhes salta à vista, não sob aquele princípio da treta dos primeiros 3 minutos, porque ninguém é definível em 3 minutos, mas aquelas pequenas/grandes "pieces of the people you love".