quinta-feira, novembro 30, 2006

4 da tarde...


São quase 4 horas da tarde e já deito a empresa pelos poros. Alguém "escandalosamente importante" virá aqui dentro de minutos e que terei de acessorar num trabalho completamente idiota, prevê-se portanto um final de tarde de seca.
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Vem aí o mês de Dezembro e a Fnac hoje estava impossível de aturar à hora do almoço. Parece que estamos em guerra e as pessoas abastecem-se selváticamente. Costumo lá andar de volta das novidades e do cantinho "indie", sempre que posso, e hoje comprei o novo dos neo-zelandeses The Veils e o "Poses" do Rufus Wainwright que andava a namorar há algum tempo. Desesperei para arranjar bilhetes para o Stuart Staples... debalde... não será desta. E disse adeus a um querido amigo que vai de mini-férias com a família.
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Dia absurdo que não chega ao fim; e o Natal à porta, sou fã, mas já me começa a faltar a paciência (ainda a procissão vai no adro), detesto consumismo. Este ano vai tudo corrido a livros, já avisei, tirando o meu sobrinho.
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Estou constipada e entupida como um verme e a melancolia de "Cigarettes and Chocolate Milk" invade-me, ocupa-me todos os neurónios.
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Um instante de alegria para abrir o novo livro ilustrado que chegou: a Farsa de Inês Pereira, esse mesmo, o de Gil Vicente; está mesmo engraçado.
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Apetece-me escrever, escrever e escrever mais ainda, mas não me apetece mexer uma palha... que enorme neura... é sempre assim em pré-feriados...
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Vou beber um chá...
...quem sabe se nas folhas do fundo da minha chávena se desenhará um anjo que me pegue na mão e me salve desta existência miserável...


...» a foto belissíma é de Joel Calheiros e foi tirada do site 1000 imagens

"Não somos criaturas de um só dia"


Na escuridão a lua vigia,
côncava.
Os teus olhos estão fechados -
todos viram algo,
mas ninguém a mesma coisa.
O que o rosto esconde
a noite descobre
a porta está aberta.
Os teus olhos estão fechados -
o teu rosto está perto do meu.
Uma força ergue-se uma e outra vez
no momento em que nascemos
- e não somos criaturas de um só dia.
Os nossos cérebros não foram construídos
para manobrar asas
mas para fabricar linguagens
e navegar de outra maneira:
pensar é tentar ver
de um modo novo, com claridade polar
- o que significa também
perceber as limitações.
Os teus olhos estão fechados -
o teu corpo é um assalto
ao brilho-açafrão.
O sono tombou
a pedra Roseta do teu cérebro;
mostra uma escrita
que ainda não decifrámos...
O nosso lugar é o tempo
e lemos,
como se tentássemos lembrar
o que ainda não nos aconteceu.
O que não fazemos
não é perdoado.
Uma das mãos agarra com força,
a outra protege,
uma terceira abençoa.

Os teus olhos estão fechados -
a alma é atraída
pelo espaço infinito
construídos pelas pausas da música.
Tenho o teu grito
na minha boca.




Pia Tafdrup in "Ponto de focagem do Oceano"
(Dinamarca)

A foto é da autoria de Luís Lobo Henriques e chama-se "Pastor de Nuvens", retirada do site 1000 imagens

terça-feira, novembro 28, 2006

às vezes é só a poesia o que nos resta...


Carlos Drummond de Andrade


O mundo é grande
O mundo é grande e cabe

nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.



Eugénio de Andrade

Lettera amorosa


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca

segunda-feira, novembro 27, 2006

Mário Cesariny ...


... ou como a morte nos rouba os talentos mas nunca as memórias.


"Queria de ti um país de ondas e de bruma, queria de ti o mar duma rosa de espuma."