quinta-feira, setembro 21, 2006

e mais uma passagem pelo "profano"...

Sarcasmo e sobriedade


“Um intelectual é uma pessoa que descubra algo mais interessante do que o sexo,” disse Aldous Huxley

"A política e os destinos da humanidade são forjados por homens sem ideais nem grandeza. Aqueles que têm grandeza interior não se encaminham para a política."
Albert Camus

"O castigo do mentiroso, além de ninguém acreditar nele, é ele não poder mais acreditar nos outros."
George Bernard Shaw

"Em tempos de embustes universais, dizer a verdade torna-se um acto revolucionário."
George Orwell, pseudónimo de Eric Arthur Blair

" Vés quanto pode agora o meu olhar." fala de Andrómaca a Cefísia in Andrómaca de Jean Racine (tradução de Vasco Graça Moura)

"O triunfo não assenta senão aos mortos. Aos vivos, há sempre alguém para censurar-lhes as fraquezas".
Marguerite Yourcenar, pseudónimo de Marguerite Cleenewerck de Crayencour

“E como podes ver, ainda falo demasiadamente, e isto é sinal de que não sou sábia, porque a virtude adquire-se no silêncio.”
Umberto Eco in Baudolino


Faço hoje minhas as palavras dos mestres, humildemente...

Tristezas e ironias...

Abraçei um novo projecto de trabalho há apenas alguns dias. É interessante, estou rodeada de livros e de gente que parece inteligente e enérgica.
Seria um bom princípio de conversa...
Mas costuma-se dizer que quando está tudo bem não há nada a dizer, apenas se fala quando alguma coisa corre menos bem.
Realmente é o caso... Parece estar tudo mais ou menos bem na minha vidinha comum, trabalho como uma moira, o que me agrada muito, nenhum problema de saúde, o dinheiro é sempre pouco para fazer tudo o que gostamos mas vai-se levando, resignamo-nos a tudo.
E é exactamente nestas alturas em que tudo parece calmo que as surpresas acontecem, ainda por cima daquelas que não gosto nada que aconteçam.
São ocasiões de ansiedade, quando olhamos em redor de nós mesmos e o tempo parece que parou, vemos que temos quase tudo para ser felizes mas não somos.
Como diz a canção da Alanis "it's like ten thousand spoons when all you need is a knife... "....
Por vezes podemos dizer que quase temos algo que muito desejamos a um sopro de distância, mas não passa de uma islusão.
Temos amigos, um tecto que nos cubra à noite, dinheiro suficiente para comer 3 vezes ao dia, abrimos o armário e temos alguma roupa, temos paz no país, os livros todos do mundo, o saber dos mais velhos... mas não somos felizes...
Temo-nos a nós mesmos, a nossa bagagem de vida, a inteligência e sensibilidade para distinguir o bem do mal, mas nada acontece...
Alguém num canto qualquer do mundo pensa em nós e envia-nos um mail idiota de uma corrente tola, mas lembrou-se de nós e sorrimos... então porquê tanta melancolia?
Envergonha-me pensar nos males do mundo e eu assim em eternos suspiros em tom de azul...
Porém quando me viro para dentro de mim e me perco de amores pelo meu próprio umbigo, dói-me fundo por tudo o que me faz falta.
Continuo a acreditar na espécie humana, não obstante o que dizem os piores prognósticos, mas não me sinto completa...
Sou como uma unha bonita sem verniz, um pente para um careca, um aparelho eléctrico em falta de corrente, uma chave de porcas quando queremos apertar um parafusito, sou como uma bela canção para um mudo, um cambiante de cor para um cego.
Sou tudo e não sou nada, sou um todo sem utilização, uma rebelde sem causa.
Se alguém me tenta surpreender com palavras de amor vejo ali um presente fora de estação e com o preço ainda pendurado, vejo histórias da carochinha, vejo o sadismo devoluto das perdas de tempo.
Nestes dias em que tudo vai bem, quase tudo tão bem, sou um croqui de gente, qual fantasma rabiscado num castelo em parte incerta.
Sou eu, olho-me e conheço-me mas não me reconheço, pergunto por mim, espero ouvir a música do costume a soletrar o meu nome, mas nem por esforço de imaginação me tenho coesa.
Estou tão bem, sou tão eu, mas não me encontro nem me tenho desaparecida, estou aqui mas não sinto nenhum calor, nem morri nem estou viva, podia ser uma coisa qualquer mas não sou nenhuma delas.
Sou o barro da minha vontade seco e quebradiço nas mãos trémulas de um escultor em fase terminal.
Sou um sangue sem cor, uma vontade sem aço, um desassossego sem pressas, uma corrida sem ar, um bilhete caducado para Nova York...

"Life has a funny way of sneaking up on you
Life has a funny, funny way of helping you out
Helping you out..."

Isn't it ironic ... don't you think?...

segunda-feira, setembro 18, 2006

Crash(em) na Praça do Comércio


Para assinalar a semana da mobilidade a cidade de Lisboa disponibiliza aos apressados transeuntes uma mega exposição literalmente esmagadora.
Esta exposição de 36 veículos acidentados está disponível para ser vista e revista de 18 a 24 de Setembro em plena Praça do Comércio.
Eu vi-a hoje de manhã bem cedo e apenas li algumas das histórias que envolveram veículos e ocupantes e não consegui deixar de me emocionar, por um lado, e de me revoltar, por outro.
É realmente chocante a realidade dos sinistros nas estradas no nosso país e não só (http://paz-na-estrada.blogspot.com/).
"A iniciativa integra-se também na “Lisboa Capital da Segurança Rodoviária 2006” e vai permitir ao público participar em simuladores de condução virtual, de capotamento e de colisão, fazer testes de condução defensiva e ainda obter recomendações personalizadas sobre as condições de segurança do transporte de crianças dentro de um automóvel (sic http://www.cienciapt.net/congressosdesc.asp?id=5045)".
Convido-vos a passarem por lá, apenas vendo se sente o problema como ele deve ser sentido.

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E claro lembrei-me...
...de diversas cenas de CRASH de David Cronenberg, um extraordinário filme habitado por corpos e máquinas, recheado de obsessões e perturbações de personalidade, revelando a brutalidade do ser humano.
Uma história que paira entre o erótico e o anti-erótico (excelente análise pode ser lida aqui http://www.bocc.ubi.pt/pag/cordeiro-paula-crash.pdf#search=%22crash%20de%20david%20cronenberg%22).
E também de um outro filme com o mesmo nome Crash de Paul Haggis, referindo-se este ao choque social e urbano entre pessoas, as suas mentalidades, desejos e pulsões (igualmente uma análise interessante pode ser vista aqui http://filhodo25deabril.blogspot.com/2006/03/810-sala-de-cinema-crash.html).
Qualquer um dos Crash fazem parte do meu leque de filmes favoritos, mas David Cronenberg é o meu altar-ego.

domingo, setembro 17, 2006

Divina borrada!...


... a que foi feita pelo líder espiritual da igreja católica o papa Bento XVI.
A declaração do pontífice foi proferida durante uma conferência na Universidade de Regensburgo no dia 12/9 o qual citou as palavras do imperador bizantino do século 14, Manuel II Paleólogo, consideradas ofensivas e provocatórias pelo mundo islâmico.
Mesmo tendo-se baseado em citações históricas, incendiar as mentalidades extremistas islâmicas, foi o que conseguiu Ratzinger, com as palavras proferidas e a igreja católica, mais uma vez, dá o ar da sua (des) graça ao manifestar opiniões anti-evolucionistas e de teor pouco diplomático.
O actual líder espiritual do cristianismo escolheu a pior altura para as dizer, se é que algum timming é o ideal para se ser extremista e inconveniente, no decorrer de uma semana de pesadas comemorações dos 5 anos do atentado de 11 de Setembro.
É do conhecimento de todos os factos históricos que comprovam as características expansionistas da Igreja Católica, pois desde 1478 que a Santa Inquisição se encarregou de espalhar o terror nivelando tudo e todos aos seus perceitos e dogmas, esmagando quem se atrevesse a demonstrar ideologias contrárias.
A mais que infeliz citação, que data de 1391, desenterrada agora por Bento XVI só poderia ter como resultado atirar agentes altamente inflamáveis para a fogueira das eternas disputas ideológicas entre cristãos e muçulmanos, radicalizando-as.
Durante 300 longos e sangrentos anos a Igreja Católica foi-se apoderando dos despojos das suas conquistas, condenando e executando sem piedade os acusados, que julgava em tribunais sumários, com requintes de crueldade extrema.
A quem assiste o direito de fundamentar a sua discordância, atendendo a este horripilante historial, afirmando que a fé dos outros é desumana porque defende com a espada a fé que prega, não é digno de representar um parcelar imenso da raça humana.
O anterior papa, se fosse ainda vivo, teria visto ruir 25 anos de trabalho pessoal em prol do bom entendimento entre as duas principais doutrinas religiosas, em poucos minutos.
De notar que várias ameças de morte contra a pessoa de Joshep Ratzinger, o papa incendiário (expressão do jornal Expresso deste sábado), foram imediatamente publicadas, restando apurar quantas mortes e quanta destruição será contabilizada após mais uma manifestação de fanatismo religioso, desta feita, supostamente oriunda do lado dos "bons".
Nota final: a foto foi retirada daqui http://www.lasnoticiasmexico.com/rbenedicto.html

Actualidades


Esta semana houve alguns acontecimentos que considero, na minha modesta opinião, de destacar porque de alguma forma consistiram em pedradas no charco e que podem indicar alguma mudança nas mentalidades instituídas.
De louvar a iniciativa da Camara Municipal de Almada que promoveu a troca de lixo reciclável por viagens; é assim mais um alerta para a problemática do ambiente e como é válido e simples reciclar o nosso lixo urbano.
Na mesma linha, a da protecção do ambiente, estreou no dia 14 o documentário em forma de filme tendo como protagonista o ex-vice presidente americano Al Gore e as suas preocupações com o aquecimento global do planeta e as sucessivas crises climatéricas que vêm ameaçando a vida na Terra como a conhecemos.
Outra notícia muito interessante tem a ver com o mundo da moda e uma proibição inédita. Na semana da moda a decorrer em Madrid surgiu a proibição, pela primeira vez, da subida às passereles de modelos com uma notória magreza excessiva. De notar a emergente preocupação com a tendência dos jovens de exibirem peso demasiado baixo por forma a seguir os canones actuais da beleza física, esta proibição estimula assim a ideia de uma vida e aparencia saudáveis. Talvés desta forma se consiga abolir a descrepância entre um mundo cheio de obesos e uma indústria que forja na mente das pessoas a magreza doentia como forma de bem estar e sucesso.
Destaco também a iniciativa da Associação Portuguesa de Bioética a qual prepara uma proposta que vai submeter ao Parlamento português a qual, a ser aprovada, premitirá aos doentes terminais ou com doenças crónicas irreversíveis, escolher até quando desejam prolongar os seus tratamentos. Segundo a referida Associação esta posição difere muito da eutanásia.
Por último parece-me positiva a ideia de levar de novo a veredicto público a questão do aborto; concorde-se ou não com a abolição das restrições actuais, são inúmeros os portugueses que não querem ver repetidos os julgamentos de Aveiro ou de Setúbal.
Bom semana para todos!