À conversa com um amigo ontem à noite em plena "avenida da praia", no Barreiro, com um café defronte de mim e ele um ice tea, comentávamos a pessoas que escrevem e que têm um blog. Eu tenho ele não tem e nem sequer era apreciador desta imensa comunidade de gente. Agora, convivendo de perto com uma blogger, foi "obrigado" a pensar na questão de uma forma menos neutral.
Quem nos vê de fora supõe uma de duas coisas: ou mentimos sobre nós mesmos ou contamos com a credulidade cega dos nossos leitores que são levados a acreditar que tudo o que dizemos é uma verdade insofismável.
Em qualquer uma das situações deparamos com uma espécie de "triangulo amoroso" entre o autor, o que é escrito e o leitor.
Começemos pelo autor. Somos, para todos os efeitos, pessoas de carne e osso, vivos e actuantes. Como tal vivenciamos e experienciamos situações como qualquer outro mortal comum.
O que escrevemos, outro dos vértices, pode ou não ser absolutamente verdade contudo existe em maior ou menor grau, restícios nossos, como uma parcela de ADN transformado em palavras ou imagens.
O terceiro parceiro é o leitor. É o X oculto e imponderável nesta equação. Alguns "vivem" as nossas histórias de forma intensa interiorizando-as como fazendo parte integrante das nossas vidas, outros julgam-nos de forma mais severa, somos ateus, viciados em sexo e não temos de certeza mais nada com que ocupar a nossa existência, logo somos uns parasitas alienados e sem senso das conveniencias sociais.
Como neste momento a paixão pelo meu blog é algo real e indesmentível tentei analisar a questão de forma mais profunda.
O meu blog é recente e não é nada de monta comparado com o talento que vou constatando em visitas assíduas a outros "habitantes da blogosfera". Como tal nunca poderei tomar-me como exemplo. Não obstante esse facto, e por não ser acéfala, tenho a minha opinião sobre o fenómeno dos blogues.
Por ser uma demonstração da criatividade do ser humano, de per si, já seria compelida a manifestar-me a favor. Há mais ou menos talento no mundo dos blogues, menor ou maior grau de originalidade, porém todos o fazemos porque nos apetece fazer.
E quem nos lê vem cá porque quer ou por acaso, porém se existem perto de 50 milhões de blogues registados em todo o mundo o efeito bola de neve faz esse número triplicar, no mínimo, quando contabilizamos aqueles que nos leêm.
Agora apurar se o que escrevemos é real ou imaginário equivaleria à absurda tarefa de questionar o mesmo a cada escritor que já publicou uma linha desde a invenção da escrita.
Um blogue tanto pode ser um diário de A a Z da história das nossas vidas como uma completa obra da mais pura ficção.
E ficção é mentira? Recuso esse conceito liminarmente.
Não obstante saber de conhecimento pessoal que muitas das vezes quem escreve em quase nada se espelha, em termos de personalidade nuclear, enquanto autor de um blog, também será de compreender a noção contrária.
Em suma somos autores de discurso escrito, publicado neste global livro que é a net, sejamos ficcionais, factuais ou algo pelo meio, não deixamos de ser pessoas e não meros prestidigitadores de vocábulos.
Isto significa que não mentimos mas, como disse o poeta, contamos a verdade de outra maneira. Contamo-la à nossa maneira e é unicamente isso que importa.
Se alguém chora, ri, fica pensativo, fantasia ou se masturba ao debruçar-se sobre a "obra" de um blogger, tal facto em nada nos distingue de um autor de livros, filmes, etecetera, que vê o seu nome ou pseudónimo impresso.
Estou a ser pretenciosa? É capaz, porém esta é a realidade do meu ponto de vista e se nos colocam rótulos que podemos nós fazer? Implodimos ou explodimos?
Quando eu, tu, ou a pessoa do blogue que se segue se expõe fá-lo de livre e expontânea vontade e quem nos procura é igualmente livre de o fazer.
Nós existimos e estamos cá e isso não se pode negar e provávelmente engrossamos a gigantesca lista daqueles que, de uma ou outra forma, tomam nas suas mãos fazer acontecer o parto da criatividade.
Não somos artistas de renome, é verdade, alguns já o são provávelmente, porém estamos todos aqui, conquistámos um espaço, virtual decerto, mas estamos cá.
Por isso afirmo: não somos mentirosos, não somos parasitas desocupados, de moralidade duvidosa, ateus ou fanáticos, somos as mãos que escrevem num teclado a vida real diária ou imaginária e recusamos todo e qualquer selo que queiram colocar nas nossas testas.
E somos sempre nós!