sexta-feira, junho 23, 2006

Manhãs

Pelos jardins escoam-se os olhos
transparentes
como janelas de casas
em subitas visões de artista

No céu antes borrifado de estrelas
passeiam-se visões de caminhantes
Faz frio... foram os aguaçeiros
não se ouvem nem as àrvores
tocadas ao de leve pelo vento

Cheira-me o ar a fogo
cobrindo os corpos de solidão
na escuridão ténue do estio

Espero tolhida, engelhada
que o próximo sol afugente
a negragem desta noite
para lavar os sentidos
e pentear os cabelos

Sabe-me a boca a ferrugem
cuspo o pano crú, a essencia
de tanto morder o lençol

Mas eis já láctea que chega
a manhã feita camélia
pálida escrava da Lua
a dar-me beijos sem ruído

De chorar se cansaram
os olhos lívidos dos jasmins
e agora que se erguem os ciprestes,
cristais de sorrisos
vão iluminando as àrvores escuras.

Já bendigo o vento Norte
que beija levemente as flores,
as flores na minha pele
nestas manhãs brumosas,
airosas como pequenas ruas
onde vagas de ilusão
inundam roxas os meus lábios.

Lx 29/07/1990



2 comentários:

Nuno Lourenço disse...

Tá lindo, já devias ter começado com isto á muitoooooo mais tempo, venham de lá essas preciosidades, beijos.

RuiPFG disse...

poesia...tamos a ficar moles...e tu nem gostas de coisas moles...