segunda-feira, agosto 28, 2006

A velha querela da confiança: O Mitómano


O ano passado, por volta desta altura, adquiri o livro "Pequeno tratado das preversões morais", do psicanalista e psiquiatra Alberto Eigner (Climepsi Editores), o qual devorei numa tarde, voltando às suas páginas sempre que se justifique, nomeadamente quando conheço pessoas com características peculiares na sua personalidade.
Diz-nos o renomado psiquiatra que todos nós nas nossas vidas comuns nos cruzamos com indivíduos, cito, "sem escrúpulos, calculistas, astuciosos, manipuladores, com condutas algo "retorcidas"" e muitos de nós já se sentiram enganados, explorados, manobrados.
Este autor, na introdução da sua obra, lança-nos o repto de não condenar estes comportamentos mas antes tentar entendê-los, por forma a podermo-nos proteger destes vilões, reforçando a ideia de que "contra os velhacos é preciso sê-lo mais ainda".
Considera, pois, conveniente conhecer o perfil destes "monstros comuns", ajudando-nos a identificá-los rápidamente.
Distingue que, um dos traços dos preversos morais é a sua capacidade de argumentação, encontrando sempre uma boa razão para justificar os seus actos, onde a dominação e a influencia levam o seu alvo a ser submetido, pouco a pouco, procurando apagar sempre o que este tem de singular, levando-o a acreditar nas vantagens da relação e tornando-o cúmplice por algum tempo.
Da "galeria de monstros" de Eigner saliento, por agora, um: o Mitómano.
O Mitómano urde uma " personagem valorizada, tomada de outrém ou inspirada nas suas leituras e adere a esta ficção com tal determinação que consegue convencer os outros", citei.
Pode revestir duas características: o sedutor e o preverso.
O sedutor é neurótico e histérico e pensa que os outros não se interessam por ele genuinamente, sente-se por isso "castrado" e a mentira permite-lhe ultrapassar esta neurose.
O preverso experimenta grande prazer em enganar o outro, aniquilando-o, retirando algum conforto no seu sentimento de omnipotencia. Obtem igualmente um enorme júbilo em confessar a sua impostura à sua vítima, vendo-o sentir-se ridículo, infeliz, perturbado com a revelação. Ele sabe, interinsecamente, que a confiança desarma por isso engoda a sua presa por meio de sedução.
O Mitómano na realidade não se sente nunca feliz por ser quem é e, ao tentar aproximar-se do seu Eu ideal, adopta a personalidade de outra pessoa.
Habitualmente são muito inteligentes e mimetizam-se na perfeição, porém a sua máscara cai ao serem confrontados com a realidade e quando, através de questões, são confrontados com a verdade expondo as suas contradições e incongruencias.
Temos como exemplo acabado de Mitómanos os falsos profetas ou fanáticos religiosos e os políticos sem escrúpulos os quais se vêm como iluminados.
A imagem foi recolhida num artigo que aborda a mitomania e a sua relação com a arte http://www.masc.org.br/conteudo.php?item=105

4 comentários:

Shaktí disse...

Há mais pessoas disfuncionais por aí cujo recalcamento nem advém da sua falta de definição sexual, por vezes apenas nada têm para fazer de útil nas suas vidas.
Os comentários que te dirijo têm origem no enorme respeito que te tenho, não obstante não te conheçer.
Beijos também para ti que és uma força da natureza.

Unknown disse...

Olá!

Foi surpreendente a forma como vim até aqui...
O wordpress informa-nos dos links de chegada quando estes vêm da raíz, assim, assaltou-me a curiosidade e cliquei!
Vim ter aqui! A este blog e a este post. A supresa foi ainda maior, não pelo tema do post, infelizmente não faltam casos clínicos que ilustram e enriquecem esta temática... mas, dizia eu, que a surpresa foi maior ao verificar que o post faz referência e cita um livro que comprei há já uns anitos e, que neste momento se encontra nas mãos de um célebre actor/encenador da nossa praça, a quem o emprestei e sobre o qual se inspirou para uma peça que dirigiu e que obteve sucesso.
Pois bem, o livro marcou-me, numa altura em que os meus conhecimentos clínicos se limitavam ao senso comum e à mera observação, efectivamente recomenda-se vivamente a sua leitura, não é técnico e desperta o leitor para a atenção que deve ter face a alguns sintomas padrão. Dramático. Dramático é quando nos cruzamos na nossa vida pessoal com estas pessoas, privamos com elas e lhes vamos desvendando a máscara paulatinamente e incrédulamente... cuidado porque o envolvimento emocional (sejam familiares, amigos, ou namorados(as)) torna tudo mais difícil. Seguidamente, temos casos não menos perigosos no meio político, que usam sem escrúpulos da soberania e da liberdade que emana de um voto para levar os seus propósitos adiante. Enfim, o livro é eloquente.
Todavia, devo, antes de mais, agradecer a referência ao meu artigo no seu post, o que revela uma postura ética louvável nos dias de hoje, e enaltecer não só a bibliografia como o seu post, boa escrita e a escolha de um tema pertinente. Parabéns e obrigada.
Agora, se me permite, vou descobrir um pouco mais o seu blog... na expectativa de ter outras agradáveis surpresas.
Continue!

Um beijo
AMMedeiros

PS: Publiquei recentemente um artigo no SONHOS&PARADOXOS (http://ammedeiros.wordpress.com) acerca da Manipulação que talvez ache interessante...

Shaktí disse...

É um prazer enorme vê-lo por aqui no meu blog e espero voltar a contar com a sua presença. Agradeço a simpatia das suas palavras e óbviamente irei visitar assíduamente o seu.
Um beijo também para si.

* disse...

acho que conheço um LOL