domingo, outubro 08, 2006

The Black Dahlia


O pior:

Fui ver a suposta sensação cinematográfica do momento, "A Dália Negra" e não gostei tanto como esperava.
O filme a nível visual e estético é belo, apostando forte num look retro, a fotografia "a sépia" é maravilhosa, recriando o cenário próprio dos finais da década de 40. Prevêm-se óscares para estes senhores: Dante Ferretti, designer de produção e Vilmos Zsigmond, fotografia.
Porém as representações são imensos tratados de puro tédio. Pela primeira vez detestei ver na tela actrizes de excelência com Hilary Swank e Scarlett Johansson, parecendo encolhidas dentro dos espartilhos de papeis desempenhados sem imaginação ou emoção. Nem Mia Kirshner, a dália negra, originalmente chamada de azul, se safa.
Atendendo à enorme fama que este crime teve em 1947 e seu também subsequente famoso livro de James Ellroy, grande mestre de policiais "noire", que serviu de inspiração a De Palma, esperava-se um filme portentoso, como foram Scarface, Os Intocáveis e LA Confidential, de Brian de Palma.
Contudo, e apesar da carga dramática e de intriga do livro, de notar que a mãe de Ellroy teria sido brutalmente assassinada e igualmente o autor do crime nunca foi descoberto, e do exorcismo que este faz do seu drama pessoal no livro, De Palma pareceu ter receio de deixar voar as estrelas do seu elenco, pois o material de representação seria mais que suficiente para os óscares ficarem todos já aqui e não se falava mais no assunto até final da temporada. Apenas Aaron Eckhart pareceu ter alguma noção do que é um detective obcecado por um caso insolúvel, resultando daí uma personagem com maior credibilidade.
Brian de Palma, confesso seguidor do estilo de Alfred Hitchcock, não esteve desta feita, na minha opinião, á altura do seu mestre.
Um filme de sensualidade duvidosa, pois destituído da emoção que a sensualidade erótica oferece, e algo rebuscada neste exercício cinematográfico de cherchez la famme, fatale, claro.
Reparem na cena do cabaret lésbico, com a presença por 3 minutos de K D Lang a cantar, é a cena mais sensual de todo o filme, para mim, não obstante a suposta cena de sexo tórrido em cima da mesa da sala de jantar entre Miss Johanssen e o actual namorado, Josh Hartnett ( um enorme sensaborão). Ela queixou-se que a coisa não correu nada bem e nota-se a falta de química entre os dois na tela, aliás a trama decorre em triângulo amoroso a maior parte dos 121 minutos.
Reparem igualmente na família altamente disfuncional retratada nesta grande-metragem, marada até à medula.
Porém, eu fiquei desapontada. Mais ainda porque é o meu estilo de filme, de um cineasta que aprecio, baseado num crime ainda por solucionar (na estávamos nos tempos do CSI, entenda-se), numa década que considero estéticamente bela, retrata as ambiguidades humanas, tema muito interessante para mim, o look recto é um dos meus favoritos, uma trama que explora o mais obscuro da personalidade feminina (elas quando são más são melhores ainda!!!!), baseada numa obra de um dos meus escritores policiais favoritos e afinal foi um anti-climax...
O melhor:
É um filme que paira entre a andrógenia e a extrema feminilidade do princípio ao fim, numa época em que as mulheres pouco mais tinham que a sua beleza física para se afirmarem e os seus imensos dotes de fazedoras de intrigas; as personagens masculinas quase nem se dá por elas aqui. Foi o que mais me fascinou, ver até que ponto pode ser fatalmente manobrado o ego masculino. O preço a pagar é caro, sabemos de histórias idênticas de stars caídas em desgraça e marginalizadas, como foi o caso da famosa Norma Jean, em ascenção na altura.
Durante muito tempo a morte, algumas vezes oferecida pelo stablishment, profundamente masculino na época, premiou as mais rebeldes.
Ácerca dessa temática o dedo foi posto na ferida pelo romance "Hollywood Babilon II" de Kenneth Anger onde, aliás, o filme se baseou em grande parte para tentar "solucionar" o assassínio de Elisabeth Short.
Nota final:
Apenas uma coisinha sem importância, as loiras do filme são belas, mas as morenas são deslumbrantes até ao divino... e de saltos altos, sempre.

7 comentários:

Anónimo disse...

Em resosta ao teu comentário (do qual agradeço muito) no meu modesto blog, sim tens razão o Santiago é muito bom, tem um ambiente muito intimista, mas a nivél de fotografia, é do pior mesmo (em termos técnicos é claro) a luz é pessima e muito fraca, foi muito complicado fazer ali alguma coisa minimamente aceitavel, mas penso que são essas caracteristicas todas que fazem daquilo um sitio especial.

Anónimo disse...

Erro...
L.A. Confidential não é de Brian de Palma... é de Curtis Hanson...
A única coisa em comum que estes dois filmes têm é o autor do romance uma vez que ambos são da autoria de James Ellroy e fazem parte de uma série que começa precisamente com a 'Dália Negra' e termina com 'L.A. Confidential'

bound[PL] disse...

Olá..:)
Como nao vi o filme.. deixo apenas um beijo!:)

Shaktí disse...

André: Obrigada pela correcção, fui também confirmar e tens razão. Ainda bem que o erro foi apenas a 50% porém apresento as minhas desculpas aos leitores.

Boundslave: olá, andavas desaparecido, sê bem vindo. Beijos

Nuno: é um local especial isso é que interessa, ainda bem que gostastes, em breve tens outro bom concerto lá.

Shaktí disse...

Nuno: mais um erro de ortografia, é gostaste e não "gostastes", é o que dá escrever depois de tantas horas de trabalho ;))

redonda disse...

Estou a passear por blogues e resolvi fazer uma pequena paragem só para dizer que gostei do seu, de como escreve e do que li.

Shaktí disse...

redonda: obrigada pelas suas palavras, espero voltar a vê-la por aqui.