quinta-feira, dezembro 28, 2006

Countdown to the desapointement


O que é um desapontamento? É um estado de espírito, uma tarefa inacabada, um meio passo de dança a caminho do abismo? Rodopiando à volta dos corações decepados o que vemos? Dor, mágoa, privação externa de sensações?
Quem somos nós quando alguém nos desaponta?
Existimos nós dentro dessa pessoa ou ela viveu tempo de mais dentro de nós?
Somos o quê quando amamos alguém? Somos o amor, somos a pessoa, somos o sentimento, somos a parcela que quer ser e sair de nós ou viramo-nos para dentro introspectivamente e ficamos a contemplar, em expectativa, o que essa pessoa faz nascer?

Quando decidimos decidir que não amamos nem queremos saber de alguém que processo decide coexistir com a nossa vida normal, de todos os dias?

Dentro de mim vi e gostei de sentir o que aquela pessoa era quando estava comigo. Vi-o crescer, florescer, argumentar com pés e cabeça os pensamentos que, há poucos meses apenas, nem sabia que existiam.

Que se faz quando se desiste de trazer o coração de alguém pela mão e de se falar com essa pessoa como se ela tivesse 4 anos de idade e se encontrasse perante o casting arriscado da vida?

Como se ensina alguém a não mentir e a se desmentir na mentira? Como podemos alfabetizar um coração que se encontra no continente escuro da ignorância?
Não fazemos nada. Simplesmente nada.

Saltam dos pulmões as canções secretas de todos os adeus, beija-se as pontas dos dedos e nas teclas do computador faz-se amor com aquele ser pela última vez.
Não se faz nada porque já se fez de tudo.
As tardes e os amanheceres não conhecem espaço, não conhecem sol nem lua, não se curvam à passagem do tempo porque já nada são.

Como deixar entrar o presente dentro do corpo do passado, como amputar-lhe as pernas e não deixar correr a tinta das horas?
Não se faz nada, nada se diz.
As armas calam-se no derradeiro disparar das palavras e decide-se que nenhuma outra guerra terá razão para ser travada.
Quem somos quando dizemos, finalmente e aliviados, adeus a alguém?
Não dizemos.
Deixamos que a areia, grão a grão, fique presa na teia da saudade, pingando memórias.
Como saímos de dentro de uma história de paixão e deixamos a razão dominar os nossos sentidos? Como partimos as pontes e fechamos as portas e tapamos as janelas?
Não o fazemos.
Alguém foi e não é mais, tão sómente.
Esgravatam-se peças pequenas e solitárias dentro do peito e descobrimos não existir nada... se calhar nunca houve nada para existir, como uma planta cuja àgua nunca foi esboçada.
Como percebemos que alguém não é bom? Que jamais se increveu no nosso clube, nem ceou à mesa do nosso partido nem nunca votou na freguesia do nosso coração? Essa pessoa é digna de nós? Esteve algum dia do nosso lado?
Não é. Não foi. Nunca será.
Ficamos nós e seguimos em frente pingando de dor, pingando no desapontamento teórico do que nunca foi, não será, não teve de ser, nunca foi.

Se foi o destino que me colocou os pés na poeira desta estrada, o acaso arrancou-me do mesmo traçado.

Os passos do afastamento são dados da ponta dos dedos ao calcanhar e nada custa mais a precorrer que a autoestrada que tem por fim a terra do nunca.

Não a terra das crianças alegres e despreocupadas que se recusam a crescer e ainda bem, mas sim aquela que não tem cor, não se vê de tão esbatida pelo andar dos caminhantes, muitos e todos os dias a fazem.
Esta terra do nunca é aquela que não está nem esteve, que não é tua nem é minha porque nunca por nós foi desenhada.

No espelho não estás tu nem estou eu, nunca mais estaremos nós, porque não somos matéria espelhável. Somos os vampiros que não se vêm , somos ...? Não... não somos... nunca fomos.

Agradecimentos: Mais uma vez "roubei" arte ao site 1000 imagens. A foto é de João Castela Cravo e chama-se " A Jornada". Uma foto bela, doce e solitária.

4 comentários:

Anónimo disse...

Que em 2007 sejas um ser ainda mais consciente em todas as tuas acções e pensamentos para que todos juntos na nossa Nave Terra possamos elevar a vibração do mundo a um nível mais luminoso, mais ecológico e sustentável...

Um bom ano Terrestre em 2007 para ti.

Shaktí disse...

Lumen: dedico-te os mesmos votos que me dirigiste e estendo-os em especial aos meus verdadeiros amigos, sempre presentes nas horas difíceis. São eles sempre que nos sustentam e assistem aos nossos desaires e às nossas vitórias. Para mim são eles o meu Planeta.
Um excelente 2007 para ti.

António disse...

Para comentar este "post" teria que te conhecer melhor? Não, és transparente!
Não acredito que tenhas entrado em contagem decrescente...
(Aqui tens que puxar pela cabeça. Ou não?)

Shaktí disse...

reporter: estou em contagem decrescente apenas para o novo ano lol. O resto leva-se na boa. Até as coisas que nos desapontam acabam por ser um fonte preciosa de ensinamentos. Provavelmente o maior ensinamento de todos será que de pouco vale tentar ser a psicóloga do "povinho".O meu prof de yôga ensina que: Podemos acompanhar alguém numa viagem mas nunca lhe devemos carregar com a bagagem. I should know better...