quarta-feira, dezembro 06, 2006

Vadios, vadias


Não estou a falar dos vadios pé de chinelo que pululam pelas ruas mas das pessoas que andam por aí, igualmente a vaguear, provavelmente sem destino definido, e que saltam de experiência de vida em experiência de vida, sem saber que rumo dar aos seus sentimentos.
Não, este não vai ser um post de homem vs mulher vs homem, isso é treta para mim. Pessoas são pessoas, não são meros géneros ou entrançados de ADN. Pessoas são tudo e não são nada, consoante as ocasiões.
Contudo lá terei de pegar numa ponta da trança e desfazê-la como um novelo... é sempre assim em cada final de ano... são os balanços que faço como um qualquer vício de revisitar um álbum carcomido pela traça dos tempos. Na tentativa vã que alguma coisa faça algum sentido, se enquadre em algum padrão.
Apenas me vejo como ninguém me vê, mesmo aqueles que me conhecem bem e com quem tenho o prazer de falar todos os dias ou quase, pessoalmente ou não.
Gosto de me revisitar através dos olhos dos outros, isso é inegável, provavelmente porque já não invisto em coisa alguma há muito tempo.
Este ano de 2006, vai terminar sob a égide do “não sei mais o que me faz realmente falta”, o que também não me tranquiliza nada.
Alguns são de opinião que tenho um personalidade complexa, outros que sou uma pessoa fria e dada a poucos momentos de intimidade real para com os meus semelhantes, e ainda alguns opinam passando-me um atestado fragmentado de demasiado “física”, a true bitch… depois recolho as opiniões mais agradáveis, porém não menos críticas, que revelam os amigos, aqueles que pensam que me protejo demais mas desguarneço os flancos, os que me dizem que sou demasiado pacífica ou pacifista, quando faço recuos e avanços mais ou menos estratégicos, ou regressos ao núcleo de mim mesma, ou que sou demasiado boazinha com quem não merece. Porém, é bem provavel que estes tenham sido os 365 dias (ainda não completados) com maior “score” de gente “eliminada” do meu rol de relacionamentos; às vezes acho que finalmente aprendi a “respirar” debaixo de água, tento viver como um ser quase totalmente anaeróbio, num ambiente de ausência de alguma coisa que também não consigo definir.
Mimetisei-me sem me confundir com o meio ambiente, mimetisei-me em mim mesma de alguma forma ou numa parcela de mim. Provavelmente aprendi a responder aos outros aquilo que eles querem ouvir, sou um camaleão de imitação. Não que me tenha transformado, antes me adaptei. O que não significa que goste ou que seja um processo pacífico. De todo.
Recolho comentários aqui no blog, sobre a minha escrita e a minha forma de estar nesta parcela da minha vida, e que valem o que valem, muito ou pouco consoante a minha disposição e a origem dos ditos. Claro está que se forem de pessoas por quem desenvolvi alguma espécie de estima terão um maior impacto que outras. Alguém disse um dia aqui no blog que sempre sentimos algum prazer narcísico de nos sabermos, ao menos, lidos e, obviamente, esse é também o meu caso.
Isto tudo para concluir a ideia que, cada um dos que connosco convivem, têm sempre uma noção diferente daquilo que realmente somos, ou não, pois muitos são os que “batem na trave” por assim dizer, mas isso é até normal.
Mas falava sobre balanços, algo tão fora de moda, numa época em que quase ninguém pára para pensar em muita coisa e muito menos em coisas desagradáveis ou incomodativas (eu inclusive), aqui estou eu em plena crise dos porquês, arrebatadamente, a brincar às pessoas crescidas que parecem sempre saber para onde vão.
Os dias são tão alegres ou tão tristes como podem ser o de qualquer outra pessoa, acredito, mas os meus sucedem-se a uma velocidade vertiginosa. Chego a pensar que estarei, decerto, numa outra dimensão regida por leis da física tão díspares que parecem quase cómicas.
Claro está que o que eu vivo, a muitos outros seres deve ocorrer algo de semelhante. As pessoas são difíceis e complicadas, cheias de ideias próprias, por vezes cheias delas próprias até ao limite, parece que mais ninguém tem aquela famosa atitude do meio cheio/meio vazio, mais ou menos parecido com uma noção vaga de equilíbrio.
Mas o equilíbrio é difícil de atingir, não é mesmo? Por vezes nem sei o que isso é. Deveremos manter-nos impassíveis perante a vida e os acontecimentos ou deveremos ser reactivos aos mesmos? Perguntas de gente de neuras, está visto…
Como em tudo o que escrevo, parece que sempre me arranjo para colocar mais questões que soluções, quiçá sou uma pessoa de maiores desarranjos que a maioria, por isso escolhi ter um blog, é a minha desforra perante a vida.
Atiro-lhe com as palavras e ela atira-me com os factos. Relação de permanente amor/ódio eu não confio nela ela não acredita em mim, mas não passamos uma sem a outra.
A vida não passa sem mim e eu não passo sem passar pela vida, mais ou menos aos tropeções, mais ou menos de supetão, de raspão ou em rota de colisão, somos ambas vadias, desgarradas das sortes, dos azares, dos acasos.
Marcadas, imprimimos as nossas marcas nos demais, como muitos rios que ainda estão para vir marcarão a paisagem.


Nota final: a foto que me fascinou pertence a Alicina, chama-se "Fantasy" e foi retirada do site 1000 imagens

4 comentários:

António disse...

Uma palavra para a foto: excelente.

Quanto ao texto. É daqueles que nos absorve. Que nos deixa a pensar quem é quem e quem faz o quê.

Depois vens dizer-me que não sei quem tem um blogue melhor que o teu...
Beijos.

Shaktí disse...

reporter: sem dúvida a foto é absolutamente fascinante.
Obrigada pelas tuas palavras quanto ao meu blog que são de uma enorme simpatia.
Beijos para ti tem um excelente fds.

Anónimo disse...

Muitas vezes perdemo-nos a olhar para dentro de nós... PErdemo-nos á procura de um sentido para a nossa vida... E acabamos por deixá-la passar ao lado. Preocupamo.nos em vez de vivermos. Já houve tempos que fiz muitos projectos para o futuro e balanços do passado. Hoje vagueio de experiência em experiência... mas seguindo sempre os meus sentimentos!!!!

Fernando

Shaktí disse...

Fernando: certamente viver é apenas o que nos resta fazer.