quarta-feira, novembro 15, 2006

Pieces of the people we love


A frase não é minha é do grupo pop "The Rapture" ( http://www.piecesofthepeoplewelove.com/ ) e escolhi-a por uma razão de semântica da palavra "pieces" e que imprime um sentido diferente às outras palavras todas .
Isto porque a ideia seria escrever sobre os pedaços, bocados, peças, particularidades das pessoas que amamos: os nossos amigos, familiares, namorados/as, e por aí fora. A palavra em inglês aos meus olhos e ouvidos soa com a intenção absolutamente certa relativamente ao que quero dar a entender neste post.
As pessoas que amamos e as suas coisas particulares, a sua voz, a sua maneira de estar, de andar, o gargalhar ou apenas o sorriso, o cabelo, as mãos, os olhos e olhares ou ainda de forma mais abstracta, os seus pensamentos, ideias, opiniões, colocações perante a vida, os seus ideais, as suas esperanças, as suas vivencias, as quais fazem delas, de cada uma e de todas elas, um universo particular.
Tenho amado algumas pessoas em toda a minha vida, umas quantas de forma intensa, poucas felizmente, mas gosto de todas as que me têm tocado de perto, algumas de forma menos positiva, não obstante revelam-se sempre com alguma utilidade de carácter estruturante.
Algumas características das pessoas são, no meu caso particular, decisivas para as entender. Desde logo a voz, algo que nos vem de dentro do corpo, que é sempre diferente e que me cativa ou repele de forma quase inexplicável. Depois a forma como a pessoa se expressa, independentemente de concordar com as suas ideias ou não, a maneira como a voz se enrrola nos pensamentos, ou como as palavras são ditas, a intenção nelas colocada, o "corpo" que a voz tem, o timbre, marcam a pessoa como uma impressão digital.
A seguir a profundidade do olhar, a maneira como a cor dos olhos preenche o globo ocular, a limpidez, a colocação destes orgãos no rosto da pessoa, a comunicação de caracterologia quase lombrosiana entre a parte superior e inferior do rosto, revela um pouco o carácter e a estabilidade da personalidade do indivíduo. Nada tem a ver com beleza física, apenas com uma noção "privatizada" de equilíbrio.
Não posso esquecer a textura da pele e as mãos, não propriamente se são bonitas ou vulgares, mas a forma como elas bailam à volta da pessoa. É para mim como os enfeites na àrvore de natal; a àrvore sempre existirá contudo os enfeites dão-lhe um encanto todo especial. O ballet das mãos, a postura dos dedos, a forma como completam todo um cenário de orquestração musical com o resto do corpo distingue as pessoas de forma indelével.
Por último a forma de andar que nada tem a ver com um caminhar de passerelle, antes um cunho pessoal que, no meu entender, posiciona a pessoa no espaço que o rodeia e perante os demais. O andar de alguém sugere a sua energia e a noção que tem do seu campo gravitacional.
Todos estes meus gostos podem indicar que dou demasiada importância à aparência das pessoas. Nada mais se afasta da realidade. Por isso escolhi a palavra "pieces" porque, com estas noções, é minha ideia olhar os outros como peças de um puzzle, mas também destrinçar-lhes os bocados da alma que assim expostas dão-me pistas do seu ser, do seu estar.
Por estas e outras razões todos, ou quase todos, os meus amigos e amigas, são cheias/os de singularidades que não encontro em mais lugar nenhum. Digo lugar porque todos nós somos um lugar, somos um país de nós mesmos, sede da nação das nossas almas, estamos e assim ficamos não onde nos colocaram mas para onde decidimos ir, porque para lá caminhamos, sempre em movimento.
Como ilustração digo que os olhos azuis da minha amiga Sofia revelam a alma que a habita, o leve babolear do meu amigo Pedro denunciam a atitude pacífica em tudo e para com todos, a posição das covinhas no rosto do meu amigo Rui espelam a sua inteligencia e sagacidade, o porte altivo da minha irmã E., a sua atitude de rainha subjugando o mundo com o seu frio encanto, o olhar de cachorrinho abandonado do meu amigo Marco revelam a sua imensa carência de afecto, a gargalhada contagiante da minha grande amiga Marta, denuncia a sua força de vontade, o leve arquear das costas de um outro meu amigo revelam alguma subjugação ao mundo que o rodeia e à vontade dos demais, e tantos outros mas não me alongo que a lista seria interminável.
Eu e este cabelo rebelde, entidade própria que devia pagar impostos e ter BI, revelam por demais a minha repugnância às circunstâncias algo inextricáveis da vida e a minha conexão aos princípios da liberdade, o meu andar um pouco felino dá uma noção do meu carácter observador e analítico.
Digam-me, estimadissímos leitores e comentadores deste blog, o que os move e motiva nas pessoas que conhecem, o que lhes salta à vista, não sob aquele princípio da treta dos primeiros 3 minutos, porque ninguém é definível em 3 minutos, mas aquelas pequenas/grandes "pieces of the people you love".

13 comentários:

Shaktí disse...

Sda: Não acho nada superficial, um sorriso é algo de muito especial principalmente vindo de um estranho. Também gosto de sorrisos especialmente os que fazem covinhas e iluminam os olhos. Um beijo para ti amigo

Pedro Mendonça disse...

qluma frase cativante, seguida um olhar olhado... apaixono-me pela inteligência, pelo sarcasmo, pela ironia e o olhar confirma tudo isto!

sim, o olhar!

Shaktí disse...

António: ah o olhar, sim... haverá pouca coisa tão intencional e que chegue tão directo à nossa alma como um olhar, um bom olhar... acho que nem o beijo, que desejamos muitas vezes que secundarize esse olhar, se torna tão intenso.

Anónimo disse...

Os olhos!!!! Definitivamente os olhos!!!!! Dizem tanto em qualquer silêncio!!!!
Depois o sorriso!!!!!

Shaktí disse...

Fernando: os olhos sempre nos dizem muito, ou demonstram muito de nós... quem consegue alguma vez esquecer os olhos ternos e cheios de devoção de alguém que nos amou?

Pedro Mendonça disse...

é verdade, o beijo....
mas aí é diferente, pode é ser desilusão! lol

Shaktí disse...

António: beijar bem para mim é um must, mas a maior parte das vezes é um flop ;-((
Jokas pa ti

Anónimo disse...

Sem dúvida o que me marca mais numa pessoa é mesmo a voz, é oque me chama logo á atenção, depois é o cabelo, penso que o cabelo tb define muito a pessoa, ora comprido ora curto, tem muito a ver, mas são essas as caracteristicas que me mais me saltam á vista e que mais reparo quando vejo alguém.

Shaktí disse...

nuno: eu sou doida por vozes também, confesso ;)) e também gosto de cabelos, quando são espessos, macios e anelados, escuros de preferência, é uma perdição.

António disse...

Bem... vamos lá.
Três coisas? Os olhos/olhar, a forma de falar e... desculpem se vos cheira a dejà vu mas é, a bem dizer, o interior que não se vê de imediato.

Anónimo disse...

A calma que me transmite, que me consegue "domar"...

Shaktí disse...

reporter: concordo que todas são "pieces" que nos fazem realmente gostar de alguém. Não acho que gostar do interior de alguém seja um lugar comum, mas pode ser um lugar estranho, por vezes.

Shaktí disse...

rafeiro: também eu prefiro pessoas não própriamente calmas, no sentido de sossegadas, mas que transmitem calma parecendo dominar a sua própria energia não a dispersando.