Nas calçadas pombalinas
ecoam passos silenciosos
Os cigarros seguem-se uns
Após os outros
O abraço negro, gótico, da noite
Sossega-me
Tranquiliza-me
Apazigua-me
A lua vai alta
por cima do Convento do Carmo
Lisboa suicída-se
quieta
aos pés do Rio
Evade-se uma lágrima
Única por si só
Fria da aragem que sopra
Pesa-me a noite nos olhos
por ser tão leve
Sou arrancada deste onírico sistema
Pelo deslizar contínuo dos eléctricos
Movem-se as peças demasiado depressa
No tabuleiro de xadrez
- parem! não é assim, não é assim…
um balbuciar tímido
como quem se encosta
cansado
a uma parede
Ao fundo da rua em choro incómodo
alguém ouvia um blues ...
Os dedos, as pontas dos dedos
não sabem mais o caminho
Não arranjam já os cabelos
que esvoaçam de encontro ao rosto
Estar só nesta cidade
Tão longe de ser banal
E precorrer-lhe as colinas como vértebras
É como caminhar em direcção a uma sala
onde alguém projecta
uma comédia
de risos acabados há muito
Nascem vilões todos os dias
E estão parados, expectantes, ofegantes
No vestíbulo de cada manhã
Se nevasse
agora
em Lisboa
eu acreditaria… juro
Shaktí 08/2006
Agradecimentos:
A foto foi gentilmente cedida pelo meu amigo Rui, de férias, algures na Transilvânea (http://ruipfg.buzznet.com/ ; http://tigerjump.blogspot.com/)
9 comentários:
Olá... Segui o conselho e postei una artigos do espaço...
Obrigada já fui espreitar
Lisboa é linda!
Digam o que disserem eu adoro passear por Lisboa quando preciso de me encontrar...
Caminhar pela rua Augusta e observar os vendedores, os quadros, os pintores...até meter conversa com eles e conhecer a história das suas vidas...
Subir até ao castelo, pelas ruas estreitas, e sentada num banco admirar a vista sobre o rio. Depois se estiver cansada, descer de eléctrico...
Ou então sentar-me na praça do comércio a observar a agitação citadina...
De Lisboa gosto principalmente da parte "velha", faz-me recuar no tempo...
Em Lisboa perco-me e encontro-me.
Mas nem todos sabem apreciar a beleza desta senhora tantas vezes cantada.
Ah...foto é bem bonita.
pink: Lisboa tem uma luz própria que não se encontra em mais lugar nenhum. É uma cidade que sempre me apaixonou e da qual não me consigo afastar durante muito tempo.
Obrigada pela tua vista.
Estas noites andam quentes
Lisboa fica excitada com estas noites de fulgor
como se os instintos despertassem com a brisa nocturna e luarenta.
Os neurónios cozem durante o dia borbulhando na sua fervura,
queimando as impurezas e as bactérias incómodas e
à noite é que são elas.
Só apetece é comer os cérebros que por aí pululam.
Isto para te dizer que dei comigo no estado puro nipónico,
armado de objectiva acidental de Alfama em Alfama
Descendo degraus e degraus até ao Eugénio de Andrade.
Encanta-me a Lisboa que encobre as mazelas do dia.
Um destes dias vens comigo no acaso casual da descoberta
de que, perdidos é que isto tem graça.
Pago-te um copo
Vá lá!
Anda lá!
João Gil
Encontrei este texto sobre Lisboa não sei se já o conhecias, em relação ao teu poema fico muito contente vás escrevendo poemas belos como este e que os vás partilhando, beijo.
Nuno: não conhecia o texto do João Gil, obrigada por mo mostrares.
Aliás este texto vai de encontro àquele périplo por Lisboa à noite com outro amigo do qual já te falei e que estará para breve. Mal os vampiros da Transilvânia o devolvam a terras lusas.
Beijo e agradeço as tuas amáveis palavras sobre o meu texto.
Sim claro que esse périplo está combinadissimo e espero por ele, se quiseres dá uma visita gosto muito da forma como ele escreve.
http://joaogil.blogspot.com
Linda foto...quem a tirou ao certo ?
rpedro: Mano!! Foste tu!! beijos
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