sexta-feira, dezembro 29, 2006

2007 - O ano do Porco


Júlio Pomar ( autor da tela na foto) gostava deles, dos porcos, mas eu confesso que não é bicho que me motive grandes ponderações.
Porém o ano lunar que se avizinha, para os chineses, é o ano deste bicharoco. Eu sou Cavalo, de Fogo, exclusivo de anos bissextos e que acontece apenas de 60 em 60 anos; um signo considerado muito esquisito na China e especula-se que fariam eliminar as crianças sob ele nascidas, especialmente se fossem meninas. Nunca percebi porquê...
De qualquer forma já vamos assistindo a alguns aproveitamentos comerciais como e o caso do relógio da Swatch, feioso por sinal.
O novo ano promete ser um mergulho no conhecimento: "Júpiter influencia para a busca de um conhecimento maior de si, do outro e de tudo que está ao redor e favorece a ânsia pelo conhecimento profundo, que vai além do que já existe. Júpiter é o desejo, é a ousadia impulsiva, o que leva o indivíduo adiante, mas como tudo tem duas faces, o ano terá favorecido o aspecto do exagero, da falta de limites" (http://port.pravda.ru/sociedade/cultura/27-12-2006/14647-anodoporco-0)
Estes são alguns dos aspectos astrológicos para quem se pela por estas coisas, não é bem o meu caso, mas tinha que escrever aqui qualquer coisita nem que fosse como pretexto para vos desejar a todos um Feliz ano Novo!!!
De preferência que nos calhe em sorte porcos gordos e luzidios, porque de leitões escanzelados estamos todos fartos...

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Countdown to the desapointement


O que é um desapontamento? É um estado de espírito, uma tarefa inacabada, um meio passo de dança a caminho do abismo? Rodopiando à volta dos corações decepados o que vemos? Dor, mágoa, privação externa de sensações?
Quem somos nós quando alguém nos desaponta?
Existimos nós dentro dessa pessoa ou ela viveu tempo de mais dentro de nós?
Somos o quê quando amamos alguém? Somos o amor, somos a pessoa, somos o sentimento, somos a parcela que quer ser e sair de nós ou viramo-nos para dentro introspectivamente e ficamos a contemplar, em expectativa, o que essa pessoa faz nascer?

Quando decidimos decidir que não amamos nem queremos saber de alguém que processo decide coexistir com a nossa vida normal, de todos os dias?

Dentro de mim vi e gostei de sentir o que aquela pessoa era quando estava comigo. Vi-o crescer, florescer, argumentar com pés e cabeça os pensamentos que, há poucos meses apenas, nem sabia que existiam.

Que se faz quando se desiste de trazer o coração de alguém pela mão e de se falar com essa pessoa como se ela tivesse 4 anos de idade e se encontrasse perante o casting arriscado da vida?

Como se ensina alguém a não mentir e a se desmentir na mentira? Como podemos alfabetizar um coração que se encontra no continente escuro da ignorância?
Não fazemos nada. Simplesmente nada.

Saltam dos pulmões as canções secretas de todos os adeus, beija-se as pontas dos dedos e nas teclas do computador faz-se amor com aquele ser pela última vez.
Não se faz nada porque já se fez de tudo.
As tardes e os amanheceres não conhecem espaço, não conhecem sol nem lua, não se curvam à passagem do tempo porque já nada são.

Como deixar entrar o presente dentro do corpo do passado, como amputar-lhe as pernas e não deixar correr a tinta das horas?
Não se faz nada, nada se diz.
As armas calam-se no derradeiro disparar das palavras e decide-se que nenhuma outra guerra terá razão para ser travada.
Quem somos quando dizemos, finalmente e aliviados, adeus a alguém?
Não dizemos.
Deixamos que a areia, grão a grão, fique presa na teia da saudade, pingando memórias.
Como saímos de dentro de uma história de paixão e deixamos a razão dominar os nossos sentidos? Como partimos as pontes e fechamos as portas e tapamos as janelas?
Não o fazemos.
Alguém foi e não é mais, tão sómente.
Esgravatam-se peças pequenas e solitárias dentro do peito e descobrimos não existir nada... se calhar nunca houve nada para existir, como uma planta cuja àgua nunca foi esboçada.
Como percebemos que alguém não é bom? Que jamais se increveu no nosso clube, nem ceou à mesa do nosso partido nem nunca votou na freguesia do nosso coração? Essa pessoa é digna de nós? Esteve algum dia do nosso lado?
Não é. Não foi. Nunca será.
Ficamos nós e seguimos em frente pingando de dor, pingando no desapontamento teórico do que nunca foi, não será, não teve de ser, nunca foi.

Se foi o destino que me colocou os pés na poeira desta estrada, o acaso arrancou-me do mesmo traçado.

Os passos do afastamento são dados da ponta dos dedos ao calcanhar e nada custa mais a precorrer que a autoestrada que tem por fim a terra do nunca.

Não a terra das crianças alegres e despreocupadas que se recusam a crescer e ainda bem, mas sim aquela que não tem cor, não se vê de tão esbatida pelo andar dos caminhantes, muitos e todos os dias a fazem.
Esta terra do nunca é aquela que não está nem esteve, que não é tua nem é minha porque nunca por nós foi desenhada.

No espelho não estás tu nem estou eu, nunca mais estaremos nós, porque não somos matéria espelhável. Somos os vampiros que não se vêm , somos ...? Não... não somos... nunca fomos.

Agradecimentos: Mais uma vez "roubei" arte ao site 1000 imagens. A foto é de João Castela Cravo e chama-se " A Jornada". Uma foto bela, doce e solitária.

terça-feira, dezembro 26, 2006

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Deus usa batôn


Seria perfeita a vida se a todas as criaturas, em criança, fosse dada a hipótese de escolherem bem, com sabedoria, o rumo a dar às suas vidas.

Especialmente as mulheres.

E porquê? Porque desta forma exerceriam total controlo sobre as suas vidas.

Na minha opinião, os seres humanos têm uma existência cada vez mais incerta. Alguns de nós optam mesmo por ser algo nómadas. As mulheres têm, a meu ver, uma dificuldade maior, nos dias que correm, em evitar alguns dos excessos que nos coram as faces, quem sabe por tendermos para a rebeldia e para a teimosia, mas somos mais abertas ao ensinamento. Mas temos desejos, tantos desejos...

Desejos de carreira, de dinheiro, de busca de notoriedade entre pares e entre os homens, porque queremos ser belas, elegantes, cultas e independentes. Queremos ser melhores que os homens e mais inteligentes, queremos ter mais e melhor que eles.

Nesta luta desenfreada do ter tudo ou nada provavelmente esquecemos algumas das leis mais elementares do universo, uma delas diz-nos que tudo deve ser feito em equilíbrio. Não acontece sermos brilhantes ou geniais apenas por agarrarmos alguma luz. Precisamos esbater algumas das tedências negativas que carregamos com o nosso género.

De lembrar que todos os embriões começam como meninas, no início da gestação, para depois, por acções hormonais diversas, uma percentagem de fetos transforma-se em meninos.

Isso significa que bem no início das nossas vidas uterinas todos somos, de facto, mulheres.

As mulheres são mais fortes, mais espirituais e mais sábias em praticamente todas as etapas das suas vidas, está provado, inclusive, que as mulheres utilizam uma maior quantidade de àreas do complexo tecido do cérebro que os homens.

No entanto, carregamos o estigma da energia negativa do universo devido à sua tendência ancestral de se transformarem em vítimas, sendo assim subservientes ao homem.

Se as leis do universo são simples, deveriamos chamar a nós a tarefa de tornar os nossos homens melhores mas deparamo-nos com a dura realidade que tal, poucas vezes, acontece.

Mas, mesmo assim, precorremos toda a nossa vida esperando que alguém nos complete, que a nossa alma gemea se revele para nós; desapontadas verificamos que, frequentemente, essa alma não evoluiu até ao nosso nível ou nós ao dela.

O toque do divino não nos atinge a todos de igual forma sempre.

Contudo continuamos a sorrir aos nossos homens, àqueles que elegemos para prrcorrerem connosco algumas etapas das nossas vidas. E nesse sorriso queremos dizer:

- A minha alma abriu-se a ti, sinto empatia por ti e pelas tuas coisas, o meu coração abre-se para te ouvir e para ser teu amigo e dentro de mim criei espaço para ti.


Para todos homens e mulheres deste mundo : Feliz Natal

Agradecimentos: a foto do 1000 imagens é da autoria de Susana Ferreira e chama-se "Escutarmo-nos...."

"Sandra"... ou o livro da perda


Para quem tem acompanhado a odisseia da transexual "Sandra" e da sua ambição de publicar um livro, aqui está o desfecho mais que provável, infelizmente.
Afinal "Sandra" não tem talento. O livro está mesmo mal escrito. O tema é interessante mas, apesar dos meus esforços para a ajudar, a menos que haja um milagre, o livro não vai sair. Não através da nossa Editora.
São situações passíveis de acontecer a um autor, mas irrita-me que tanta porcaria seja publicada e não se dar uma chance a uma pessoa que tem mesmo necessidade de publicar um livro, por mais que uma razão.
Mas esta situação era de esperar, oxalá ela consiga publicá-lo de outra forma porém a opinião geral é que o material é tão mau que teria de ser reescrito.E depois? Isso acontece com mais frequencia do que se imagina...
Porém foi muito boa a sensação que tive de ter tido alguma influencia junto da editora chefe para que analisasse o material com abertura de espírito.
Santi em mim a centelha divina; a possibilidade remota, bem sei, de poder tocar a vida de alguém e de a mudar decididamente para melhor, neste caso para muito diferente, talves me tenha cegado.
Acho que me senti um pouco enebriada por poder ajudar... mas não consegui...

Desta vez jogámos as duas e perdemos a partida de xadrez. Fiquei com um sentimento de desgosto como quando vemos que nada mais podemos fazer por alguém que, de alguma forma, nos cativou com a sua história.

Senti a força, algures, e agora deparo-me com a fragilidade...

...apesar de tudo, tentei.


A foto é do site 1000 imagens e é da autoria de Paulo Cesar Guerra. Tem por título "Força e fragilidade"

terça-feira, dezembro 19, 2006

... na brincadeira...

Há algum tempo atrás, alguém que não lembro quem, enviou-me o link e penso ter sido esta a primeira ou segunda vez que o abri, porque não me fio em prognósticos de tarot ou coisa que o valha... mas hoje, na brincadeira, decidi abrir e jogar, fiquei espantada com o resultado cheio de sentido lógico.
Cá vai o resultado:
"Carta do dia: Ás de Espadas
Rompendo com a estagnação

É chegado o momento,de romper com a estagnação. O Ás de Espadas transborda como arcano de conselho para você, hoje, sugerindo que você corte implacavelmente todas as coisas, pensamentos, hábitos e pessoas que não lhe servem mais e que procure sustentar seus pensamentos e opiniões, mesmo que isso signifique desencadear antipatia nos outros. Este é um momento de renovação em sua vida, de idéias novas que fervilham e você poderá tomar as iniciativas que tirarão sua existência da rotina e do tédio. Prepare-se para uma nova e deliciosa aventura e não se preocupe tanto em ter uma “personalidade simpática” nesta fase de sua vida. Há momentos em que a atitude mais sedutora é aquela que não prima pela docilidade, mas que se compromete com a verdade. É quando sabemos que não estamos sendo simpáticos, mas estamos sendo honestos. Ainda que não agrademos, não há como negar o notável poder sedutor da pessoa que age com integridade – mesmo quando age de uma forma superficialmente antipática. "
Até o tarot recomenda que eu seja como a Mae West e o Groucho Max:
-"Aqueles que se chocam com facilidade, deviam ser chocados mais frequentemente " ( Mae West )
-"Não me importo de pertencer a um clube que aceita pessoas como eu como membros" ( Groucho Max )

segunda-feira, dezembro 18, 2006

O Natal...


Tinha que ser, falar desta época, não podia faltar um postezito neste sentido.
Mas vai ser curtinho porque já deito o supra citado pelos olhos. Apenas faço uma pequena alusão ao material natalício mais visível, isto é, as prendas.
Já se depararam certamente com as ditas cujas que são tudo menos aquilo que desejamos, procuramos ou que nos faz falta. Mas que se pode fazer às meias que a tia ofereçe, ou aos lenços da avozinha, ou ainda aos panos da loiça da madrinha, até mesmo às cuequitas da amiga idosa da mãe? Nada, não é? É receber e cara alegre:
- Obrigada que giras que são, era mesmo isto que eu precisava... - sorriso amarelo q.b.
...
Como já havia dito algures, este ano as minhas prendas revestiram a forma de livros, em 98% dos casos.
Se receber tantos quanto aqueles que dei, posso garantir-vos, que tenho material para ler na próxima meia-dúzia de anos.
Todos, à excepcção de alguns, gostam de dar e receber prendas, eu pelo menos adoro essas surpresas e confesso que fiz algumas acertando em cheio "na mouche". Acho que sempre tive esse dom, de dar aos outros aquilo que acredito que vão realmente gostar. E gostam.
Mas o cerne da questão deste post não passa por aí. Passa pela capacidade de agradecer uma prenda.
Quem não gosta de receber um postal, um telefonema ou mesmo um micro sms a dizer: OBRIGADA!
Pois, todos nós gostamos. Ficamos orgulhosos e felizes connosco próprios, naturalmente.
Mas... e quando quem recebe uma prenda não diz nada, não escreve, não telefona, não diz nada de nada...?
Que vos passa pela mente nessa altura?
Bem, eu falo por mim: fico com uma neura danada! Apetece-me ter o dom de rebobinar a cassete e de, para aquela pessoa em questão, mandar um pacotinho de excremento de cão sarnento e malcheiroso, de preferência fresquinho e acabadinho de apanhar!
Não me venham com a treta que é a intenção que conta! Que nada! Mesmo que não se retribua a atenção com algo de material, fica sempre bem agradecer na hora, no instante em que se recebe a prenda, ou não tenho razão?
Que faltinha de chá têm algumas pessoas que outrora apelidámos de amigos! Irrrrrrra!

Ainda bem que por vezes acontecem algumas boas surpresas da parte que quem nunca contávamos!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

O edifícios antigos e os seus fantasmas


Lisboa é uma cidade antiga e algo trágica. Existem espaços em Lisboa como não os há em mais cidade nenhuma, ou provavelmente existem, mas para nós portugueses a nossa capital é a mais bela do mundo. Compreende-se, é uma atitude bonita.
Um dos locais mais antigos, cheios de história e muito amados é a Livraria Bertrand. Em 1732, o francês "Pedro Faure abre uma Livraria na Rua Direita do Loreto e para assegurar a sucessão, casa a filha com Pierre Bertrand, um seu conterrâneo livreiro. Este, juntamente com Jean Joseph, seu irmão, dá origem à Livraria Bertrand. O negócio corria bem, mas o terramoto de 1755 acabou por devastar a Livraria. Este incidente pôs em perigo a continuação do negócio, que viria a ser abandonado por Pierre, mas o seu irmão, mais persistente, não desiste e em 1773, a Livraria Bertrand renasce na Rua Garrett, onde se mantém até hoje".
Para os que o desconhecem, os serviços admnistrativos da empresa vão ser transferidos para o edifício do Circulo de Leitores, em Benfica, para enorme tristeza dos empregados, para quem deixar o Chiado equivale a perder quase que a noção de "cidadania".
As caixas de cartão estão por todo o lado, repletas dos pertences dos seus ocupantes, a azáfama é muita mas a tristeza invadiu todos conforme os dias foram passando. Este Natal não terá, certamente, o mesmo sabor.
Ao cimo das escadas de acesso ao 1º andar do nº 29 da Rua da Anchieta, perto do arquivo geral, estava, há uns dias, a silhueta ténue do nosso fantasma. Também "ele" vai perder os amigos e companheiros de todas as ocasiões.
O cheiro dos livros não mais vai ser sentido e, em breve, o frenezim que acompanha o lançamento de uma nova obra não mais ecoará no labirinto dos corredores frios da editora.
Desde os finais do séc XVIII que neste espaço convivem dezenas de pessoas, fantasmas, livros, computadores e impressoras, elementos estes adiccionados pelos tempos modernos, é como uma fábrica de ideias que se vai calar, vão ficar apenas paredes vazias e os fantasmas serão votados ao esquecimento.
É o preço do progresso e dos imperativos comerciais e económicos, mas nem por isso mais fáceis de aceitar. Quando se abandona um local cheio de história em que cada centímetro quadrado fala com a autoridade dos monumentos, é inevitável pensar que certas situações ficariam melhores se nunca fossem tocadas; por vezes cristalizar no espaço e no tempo, como um retrato "a sépia", nem sempre pode ser considerado algo de negativo.

(os elementos históricos foram recolhidos aqui : http://html.bertrand.dalera.com/historial__q1__q20__q30__q41__q5.htm).

quarta-feira, dezembro 13, 2006

The Dears - Whites Only Party


I wanna know how you did it
you waltzed right past the door
while we struggled here at the gates and can't get through
we could've followed you
and maybe looked like fools
but who cares we'd still be true
we'd still be true
we ain't here to steal your women
well, at least that wasn't the planthere's that closet smell
makes you think you've been inside there too long
you're almost mystical
and i'm impossible
we need a miracle
a miracle
don't say i'm paranoid
it's more like just annoyed
maybe a bit destroyed
a bit destroyed
and there's nowhere else for us to run
and our time has sure as hell become
and life has just begun
it's just begun

http://www.thedears.org/ - som absolutamente viciante o destes senhores canadianos, no mínimo provocadores e muito lúcidos.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Albuns do ano pela Radar



Amigos:
A "Minha" estação de rádio está a votos...
Podem votar nos 5 melhores albuns de 2006 e no melhor concerto que assistiram durante todo este ano.
Peço-vos que votem em http://www.blogradar.blogspot.com/ não só porque é uma rádio que vale a pena escutar mas também apoiar. Eles são pequenos mas são mesmo muito bons.
É uma estação cheia de gente amiga, excelentes profissionais e isso é, na realidade, o que mais importa.
Desde já agradeço-vos! Eu já lá deixei a minha contribuição.

The Veils - Nux Vomica

What Say you, Lord
For the olive boys down in the house of corrections
As they try for love and any form of ascension
Am I on the right train headed in the wrong direction?
What say you Lord
What say you Lord

Do you think it wrong
Do you see a long road with no one on it
And the right of men that you only learnt to forget
You see my sad wife and my high margin of profit
But you don't care at all
You don't care

What say you Lord
Now that they're breeding all our animals insane
And the remedy is growing harder to obtain
There's a white horse running wild through the switch-cane
I can hear him now
And I fear him

'Til Kingdom come
Cauight in this frenzy of elimination
Such an irreparable disintergration
My body's twitching with a ready expectation
For Kingdom come
My Kingdom!

What say you Lord
Why is the truth of this so hard to unveil?
Though it's true I never knew what this would entail
From the hands of Christ to the head of the Daily Mail
I'll see you all
And I'll raise you

What say you Lord
I wonder when this light is brought up for sale
With the weight of love and the grace of the Baleen Whale
Will the severed Heads of State be at all curtailed
Will they be here at all
-Will they be dead and gone?

What say you Lord
Of the serpent-talied, forbidden fish of the harbour
And the ready-men, defiant drinkers and charmers
All lost and summoning the face of their fathers
Can you see him now?
I can see him

What say you all
Do I believe it if I do not want it
Do I lie alone and keeps my cold hands off it
Honey, it ain't hard to loose your grip in the midst of all of this
But it ain't far to fall
It's not far at all


Nota: Uma das músicas e letras mais poderosas que ouvi nos últimos tempos! Estes meninos são da Nova Zelândia, terra agreste e bela.

Razorlight - Who Needs Love


Oooh darling who needs love?
Who needs a heaven up above?
Who needs the clouds, in the sky, not I

Oooh darling who needs the rain?
Who needs somebody that can feel your pain?
Who needs the disappointment, of a telephone call, not I
No I don't need that at all, not I

I'm, tired of love
Yeah, sick of love
I've taken more than enough
Oooh darling who needs the night?
The sacred hours, the fading life
Who needs the morning, and the joy it brings, not I

I've got my mind on other things, not I
Oooh darling who needs joy?
Who needs a perfect girl or boy?
And who needs to draw, that person near, not I
Because they always disappear, not I

And you know, I'm, tired of loveYeah
Yeah I'm, sick of love
Yeah
You give me more than enough
I'm gone!

Oooh darling who needs love?
Who needs a heaven up above?
Who needs all the arguments, who needs to be right, not I

But I just can't give up without a fight, not I
No I just can't give up without a fight, not I
No I just can't give up without a fight, not I
No no no not I
Ooh no no not I
No no no no no not I



Nota: Adorei esta letra!

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Sandra ligou-me...


... na quinta feira de tarde.
...
Faz parte das minhas tarefas receber manuscritos na editora. Fiquem tranquilos, não os leio, não passa por mim a decisão de os publicar ou rejeitar, mas atendo as pessoas que cheias de anseios e esperanças, com talento ou sem ele, querem ver as suas obras publicadas.
Normalmente são pessoas chatas e aborrecidas mas, de quando em vez, alguma merece uma maior atenção e até carinho, não obstante para elas eu significar o mesmo que Deus para as cigarras, ou seja, rigorosamente nada.
Sandra contacta a editora porque quer submeter o seu manuscrito à apreciação para averiguar se existem possibilidades de publicação. Estive ao telefone com ela todo o tempo disponível que pude arranjar. E com prazer o fiz.
Sandra nasceu com o nome de João e é um ser em transformação, provavelmente tão mulher por dentro como eu o sou por fora, apenas não lhe calhou em sorte o género que deseja e arrasta, com pesar, uma existência num corpo masculino que a atormenta e castra.
Não é vulgar eu dar demasiada importância a quem ambiciona publicar um livro, afinal convivo com tantos e com tanto gosto. Contudo muitas são as histórias caricatas de autores conceituados que toda a gente, ou quase, lê e se deslumbra e na verdade são pessoas egocêntricas e vaidosas e sem o mínimo de consideração pelo seu semelhante. Outros, inversamente, são tímidos e mesmo vendendo livros como se vendem farturas em barraca de feira no dia da procissão, mantêm um ar sereno e cheio de respeito pelo enorme trabalho de bastidores que envolve a promoção, divulgação e publicação de um livro.
Por isso falar com Sandra foi tão bom. Alguém que assume a sua transexualidade e diz que sofre e quer contar porquê acreditando que, ao divulgar a sua experiência, poderá ajudar alguém que, como ela, luta todos os dias da sua vida, todos os minutos, todos os segundos, para ser olhada como um ser humano nomal, como eu e como tu.
Dei-lhe toda a atenção que mereceu porque me tratou como gente, disse-lhe tudo o que me ocorreu que a pudesse ajudar a tornar o seu livro atractivo aos olhos que quem o vai analisar, dei-lhe todos os conselhos que me lembrei e, por mim, desejei ver o seu manuscrito publicado fosse em que editora fosse.
Dirigi-me a ela usando o nome pelo qual ela vai passar a ser conhecida após o processo, que me explicou com detalhe e muita paciencia, ficar concluído, porque ela se dirigiu a mim chamando-me pelo meu nome próprio, que tratou logo de saber, mesmo tendo conhecimento que em nada poderia influenciar os trâmites internos de publicação. Tratou-me com respeito e consideração, foi humana e entendeu as minhas limitações profissionais e com isso obrigou-me a despir a minha couraça.
Ofertou-me quase uma hora de imenso calor humano e de uma vivência, de longe, bem mais complicada que a minha.
Quase senti vergonha de andar sempre a caminho do meu muro das lamentações.
...
Não te chamas Sandra nem nasceste João, como aqui está escrito, porque me pediste que fosse discreta e que não esquecesse a regra da confidencialidade, mas não consegui deixar de considerar importante que a tua história fosse contada e que a tua àrdua luta e enorme força de viver visse a luz do dia sob a forma escrita como tanto ambicionas.
Mesmo sabendo que não me vais ler não quis deixar de te prestar tributo como tua irmã, não em género nem de sangue, mas de espírito.
Tens razão o filme Transamérica é importante ser visto e entendido.
Boa sorte para a conclusão do curso de Filosofia e para a publicação dos teus textos e...muito obrigada por existires.
Agradecimento: permiti-me "roubar" mais uma foto do site 1000 imagens. Desta feita a foto é de Victor Melo e intitula-se "Forças"

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Vadios, vadias


Não estou a falar dos vadios pé de chinelo que pululam pelas ruas mas das pessoas que andam por aí, igualmente a vaguear, provavelmente sem destino definido, e que saltam de experiência de vida em experiência de vida, sem saber que rumo dar aos seus sentimentos.
Não, este não vai ser um post de homem vs mulher vs homem, isso é treta para mim. Pessoas são pessoas, não são meros géneros ou entrançados de ADN. Pessoas são tudo e não são nada, consoante as ocasiões.
Contudo lá terei de pegar numa ponta da trança e desfazê-la como um novelo... é sempre assim em cada final de ano... são os balanços que faço como um qualquer vício de revisitar um álbum carcomido pela traça dos tempos. Na tentativa vã que alguma coisa faça algum sentido, se enquadre em algum padrão.
Apenas me vejo como ninguém me vê, mesmo aqueles que me conhecem bem e com quem tenho o prazer de falar todos os dias ou quase, pessoalmente ou não.
Gosto de me revisitar através dos olhos dos outros, isso é inegável, provavelmente porque já não invisto em coisa alguma há muito tempo.
Este ano de 2006, vai terminar sob a égide do “não sei mais o que me faz realmente falta”, o que também não me tranquiliza nada.
Alguns são de opinião que tenho um personalidade complexa, outros que sou uma pessoa fria e dada a poucos momentos de intimidade real para com os meus semelhantes, e ainda alguns opinam passando-me um atestado fragmentado de demasiado “física”, a true bitch… depois recolho as opiniões mais agradáveis, porém não menos críticas, que revelam os amigos, aqueles que pensam que me protejo demais mas desguarneço os flancos, os que me dizem que sou demasiado pacífica ou pacifista, quando faço recuos e avanços mais ou menos estratégicos, ou regressos ao núcleo de mim mesma, ou que sou demasiado boazinha com quem não merece. Porém, é bem provavel que estes tenham sido os 365 dias (ainda não completados) com maior “score” de gente “eliminada” do meu rol de relacionamentos; às vezes acho que finalmente aprendi a “respirar” debaixo de água, tento viver como um ser quase totalmente anaeróbio, num ambiente de ausência de alguma coisa que também não consigo definir.
Mimetisei-me sem me confundir com o meio ambiente, mimetisei-me em mim mesma de alguma forma ou numa parcela de mim. Provavelmente aprendi a responder aos outros aquilo que eles querem ouvir, sou um camaleão de imitação. Não que me tenha transformado, antes me adaptei. O que não significa que goste ou que seja um processo pacífico. De todo.
Recolho comentários aqui no blog, sobre a minha escrita e a minha forma de estar nesta parcela da minha vida, e que valem o que valem, muito ou pouco consoante a minha disposição e a origem dos ditos. Claro está que se forem de pessoas por quem desenvolvi alguma espécie de estima terão um maior impacto que outras. Alguém disse um dia aqui no blog que sempre sentimos algum prazer narcísico de nos sabermos, ao menos, lidos e, obviamente, esse é também o meu caso.
Isto tudo para concluir a ideia que, cada um dos que connosco convivem, têm sempre uma noção diferente daquilo que realmente somos, ou não, pois muitos são os que “batem na trave” por assim dizer, mas isso é até normal.
Mas falava sobre balanços, algo tão fora de moda, numa época em que quase ninguém pára para pensar em muita coisa e muito menos em coisas desagradáveis ou incomodativas (eu inclusive), aqui estou eu em plena crise dos porquês, arrebatadamente, a brincar às pessoas crescidas que parecem sempre saber para onde vão.
Os dias são tão alegres ou tão tristes como podem ser o de qualquer outra pessoa, acredito, mas os meus sucedem-se a uma velocidade vertiginosa. Chego a pensar que estarei, decerto, numa outra dimensão regida por leis da física tão díspares que parecem quase cómicas.
Claro está que o que eu vivo, a muitos outros seres deve ocorrer algo de semelhante. As pessoas são difíceis e complicadas, cheias de ideias próprias, por vezes cheias delas próprias até ao limite, parece que mais ninguém tem aquela famosa atitude do meio cheio/meio vazio, mais ou menos parecido com uma noção vaga de equilíbrio.
Mas o equilíbrio é difícil de atingir, não é mesmo? Por vezes nem sei o que isso é. Deveremos manter-nos impassíveis perante a vida e os acontecimentos ou deveremos ser reactivos aos mesmos? Perguntas de gente de neuras, está visto…
Como em tudo o que escrevo, parece que sempre me arranjo para colocar mais questões que soluções, quiçá sou uma pessoa de maiores desarranjos que a maioria, por isso escolhi ter um blog, é a minha desforra perante a vida.
Atiro-lhe com as palavras e ela atira-me com os factos. Relação de permanente amor/ódio eu não confio nela ela não acredita em mim, mas não passamos uma sem a outra.
A vida não passa sem mim e eu não passo sem passar pela vida, mais ou menos aos tropeções, mais ou menos de supetão, de raspão ou em rota de colisão, somos ambas vadias, desgarradas das sortes, dos azares, dos acasos.
Marcadas, imprimimos as nossas marcas nos demais, como muitos rios que ainda estão para vir marcarão a paisagem.


Nota final: a foto que me fascinou pertence a Alicina, chama-se "Fantasy" e foi retirada do site 1000 imagens

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Desencontros...


Há dias em que as coisas mais simples estão vaticinadas ao fracasso e as mais complicadas nem sequer se deve pensar nelas para que não corram mal.
Estão a ver aqueles dias em que se prevê acabar a noite em beleza, bem acompanhado, bem alimentado, feliz, aos beijos e abraços a alguém ( abreijos como diz um amigo dos blogs) e depois parece que entrámos no comboio certo porém na direcção errada?
Pois... hoje é um desses dias.
Parece que o até o alinhamento das estrelas se lembrou de desalinhar e fica-se assim como que espantado a olhar para o ar e a perguntar: porquê eu?
Devem já ter tido dias desses, certamente.
Quando estes estados de desânimo acontecem que sentem vocês? Ficam tão preplexos como eu ou ficam irritados? Bradam aos céus? Suplicam aos deuses por clemência? Prometem que para a próxima vez não pisam em cima das formiguinhas para não acumularem mau karma? Desatam a gritar e a arrancar os cabelos? Choram baixinho? Ou riem como loucos sem acharem piada nenhuma a seja o que for?
O que vos acontece no íntimo quando planeiam algo com amor e carinho e zás, trás, pás, pum, vai tudo parar às urtigas?
Planeiam, anseiam, suspiram por alguma coisa, fazem tudo o que está ao vosso alcançe para as coisas darem certo e depois catrapumba! ... nicles...

Grrrrrrrr... caramba, ele há dias de doidos neste mundo!


Nota de agradecimento: a foto pertence a Adriana Oliveira, dá pelo título de "there's a shadow on my wall..." e foi retirado do site 1000 imagens.

quinta-feira, novembro 30, 2006

4 da tarde...


São quase 4 horas da tarde e já deito a empresa pelos poros. Alguém "escandalosamente importante" virá aqui dentro de minutos e que terei de acessorar num trabalho completamente idiota, prevê-se portanto um final de tarde de seca.
...»
Vem aí o mês de Dezembro e a Fnac hoje estava impossível de aturar à hora do almoço. Parece que estamos em guerra e as pessoas abastecem-se selváticamente. Costumo lá andar de volta das novidades e do cantinho "indie", sempre que posso, e hoje comprei o novo dos neo-zelandeses The Veils e o "Poses" do Rufus Wainwright que andava a namorar há algum tempo. Desesperei para arranjar bilhetes para o Stuart Staples... debalde... não será desta. E disse adeus a um querido amigo que vai de mini-férias com a família.
...»
Dia absurdo que não chega ao fim; e o Natal à porta, sou fã, mas já me começa a faltar a paciência (ainda a procissão vai no adro), detesto consumismo. Este ano vai tudo corrido a livros, já avisei, tirando o meu sobrinho.
...»
Estou constipada e entupida como um verme e a melancolia de "Cigarettes and Chocolate Milk" invade-me, ocupa-me todos os neurónios.
...»
Um instante de alegria para abrir o novo livro ilustrado que chegou: a Farsa de Inês Pereira, esse mesmo, o de Gil Vicente; está mesmo engraçado.
...»
Apetece-me escrever, escrever e escrever mais ainda, mas não me apetece mexer uma palha... que enorme neura... é sempre assim em pré-feriados...
...»
Vou beber um chá...
...quem sabe se nas folhas do fundo da minha chávena se desenhará um anjo que me pegue na mão e me salve desta existência miserável...


...» a foto belissíma é de Joel Calheiros e foi tirada do site 1000 imagens

"Não somos criaturas de um só dia"


Na escuridão a lua vigia,
côncava.
Os teus olhos estão fechados -
todos viram algo,
mas ninguém a mesma coisa.
O que o rosto esconde
a noite descobre
a porta está aberta.
Os teus olhos estão fechados -
o teu rosto está perto do meu.
Uma força ergue-se uma e outra vez
no momento em que nascemos
- e não somos criaturas de um só dia.
Os nossos cérebros não foram construídos
para manobrar asas
mas para fabricar linguagens
e navegar de outra maneira:
pensar é tentar ver
de um modo novo, com claridade polar
- o que significa também
perceber as limitações.
Os teus olhos estão fechados -
o teu corpo é um assalto
ao brilho-açafrão.
O sono tombou
a pedra Roseta do teu cérebro;
mostra uma escrita
que ainda não decifrámos...
O nosso lugar é o tempo
e lemos,
como se tentássemos lembrar
o que ainda não nos aconteceu.
O que não fazemos
não é perdoado.
Uma das mãos agarra com força,
a outra protege,
uma terceira abençoa.

Os teus olhos estão fechados -
a alma é atraída
pelo espaço infinito
construídos pelas pausas da música.
Tenho o teu grito
na minha boca.




Pia Tafdrup in "Ponto de focagem do Oceano"
(Dinamarca)

A foto é da autoria de Luís Lobo Henriques e chama-se "Pastor de Nuvens", retirada do site 1000 imagens

terça-feira, novembro 28, 2006

às vezes é só a poesia o que nos resta...


Carlos Drummond de Andrade


O mundo é grande
O mundo é grande e cabe

nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.



Eugénio de Andrade

Lettera amorosa


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca

segunda-feira, novembro 27, 2006

Mário Cesariny ...


... ou como a morte nos rouba os talentos mas nunca as memórias.


"Queria de ti um país de ondas e de bruma, queria de ti o mar duma rosa de espuma."

quinta-feira, novembro 23, 2006

Agressões físicas


Hoje de manhã a caminho do trabalho fui vítima de uma louca que me agrediu. Isso mesmo, bateu-me.
Em pleno autocarro cheio de gente, o azar bateu-me à porta sob a forma de alguém que não gosta de apertos nos transportes nem dos costumeiros empurrões para entrar.
Fui à esquadra de polícia da Pç do Comércio apresentar queixa e deparei com um enorme profissionalismo de um dos agentes que me atendeu e do apoio que me deu. Ponto deveras positivo; para me acalmar acabámos por falar um pouco de livros quando revelei o meu local de trabalho. Já lhe mandei um porque a sua simpatia foi enternecedora.
Detesto, por princípio, tecer considerandos de tipo alarmistas ou castastróficos quanto à sociedade em que vivemos, nem que seja pelo facto de viver nela e ser sujeita aos seus "agentes poluentes" mas também por acabar por contribuir, mesmo que de forma inconsciente, para essa poluição comportamental. Igualmente porque as pessoas más são muitas mas as boas também existem; hoje convivi com as duas faces da moeda, infelizmente da pior maneira.
Porém não consigo deixar de pensar que as pessoas estão a enveredar por caminhos assustadores sem se deterem para pensar em soluções pacíficas e da via do diálogo. Parte-se para uma agressão física na primeira hipótese sem equacionar prós e contras de outra solução.
Vi-me assim obrigada a contribuir, desta feita, rasgando o véu de silêncio que todos adoptam, quase sem excepcção, com o intuito de ensinar os que agridem verbal e fisicamente os outros a não ficarem impunes.
A raiva e o ódio são sentimentos passíveis de ser dominados e geridos, explodidos nos locais próprios, ginásios por exemplo com uma boa suadela, não podem ser canalizados como dejectos e despejados nos demais, apenas porque é frustrante andar de transportes públicos em hora de ponta.
Ocorreu-me agora mesmo o arrepiante pensamento: se esta cena se tivesse passado noutro país onde as armas se vendem como rebuçados eu estaria morta, provavelmente, ou se as oito pessoas que tentaram apartar aquela mulher tresloucada dos meus cabelos, não a tivessem conseguido segurar, talves estivesse agora nas ugências de um hospital e não aqui, a escrever-vos esta história, sossegada na minha secretária.


A VIOLÊNCIA JAMAIS DEVERIA SER ENCARADA COMO UMA SOLUÇÃO... POR MUITO QUE NOS APETEÇA E A POSSAMOS CONSIDERA-LA JUSTA NAQUELA OCASIÃO.

Pensem nisso...

A todos...

Suponho que seja correcto da minha parte esclarecer os meus muito simpáticos leitores àcerda do post e comentários de ontem. Então cá vamos:
1 - Não estou aborrecida com ninguém
2 - Podem colocar os comentários que acharem por bem, isto incluí piadas ou anedotas
3 - Agradeço que continuem a fazê-lo
Ponto de honra: respeito por mim, pelo blog e pelo conteúdo do post, para não ter de apagar comentários o que me desagradaria por princípio de liberdade de expressão, mas também me desagradam opiniões que visem apenas ridicularizar ou afrontar quem escreve. Os blogs são locais públicos mas não são WCs ou sarjetas para serem despejados sub-produtos originários de humores dispépticos ou de frustrações de vária índole.
Nota : seja lá por que razão for este blog não é lido nem comentado por mulheres, o que me desgosta mas não será por aí que a burra vai às couves, por isso gosto de trazer assuntos polémicos e que façam, pretensão a minha provavelmente, as pessoas pensarem em temas sobre os quais não se debruçem vulgarmente. Pelo facto de não contar com visões ou versões femininas extra a própria, isso faz com que estejam vocês homens em maioria. Por se tratar de um facto, chamo a vossa atenção para o princípio democrático da equidade e da decência: uma multidão contra um indivíduo apenas, não nos faz sentir nem humanos nem bons. Por isso o respeito é FUNDAMENTAL.

Temas como o que aqui ontem foi exposto, foi escrito de forma a não melindrar ninguém, escarnecer ou fazer sentir algum tipo de inferioridade ou superioridade. Se aos homens não agrada o que as mulheres inteligentes, saudáveis e independentes falam na vossa ausência, creiam que nós aguentamos comentários de mau gosto, assédios, improbérios, más formações, em suma, violações de integridade física e moral há centenas de anos e tentamos sempre, falo por mim e pelas mulheres que tenho a honra de conhecer, sabemos o que dói por isso NUNCA VAMOS POR AÍ.

Tudo o restante que não refiro conto com a vossa inteligência para deduzirem.

quarta-feira, novembro 22, 2006

O pénis como documento


Mais um dia para as amigas. Foi ontem. Dia de bola para os comuns mortais e para nós mais um encontro de conversa animada e animante.
Desta feita fomos apenas três do grupo que se juntaram nas galerias do Chiado para dar umas valentes gargalhadas ao som dos golooooo!!! sempre que a equipa portuguesa em campo ia, aqui e ali, marcando.
Sejamos nós de que clube formos é, no mínimo, patriótico defender quem quer que seja que vista as cores portuguesas e esteja em campo a dar uma abada aos congéneres estrangeiros.
E por falar em marcar golos...
Bem, não nos reunimos em prol da actividade desportiva mais amada em Portugal ou no mundo, reunimo-nos para disfrutar da companhia umas das outras. Simplesmente.
A conversa ora decorria em inglês (uma de nós é proveniente da Hungria e ainda não domina o nosso idioma), ora em português, o que é sempre engraçado para nós e até para quem assiste, o que inevitavelmente acontece quando um grupo de raparigas se diverte sem machos por perto.
Falamos sempre imenso. Sobre livros, viagens, os nossos trabalhos, sobre o Natal que se aproxima e, claro, sobre "eles"... para variar.
O tema divergiu para um certo "materialismo picante" e eu vou ser comedida pois o meu blog não é "desses". Falávamos de pénis, sim é verdade, á hora do jantar deu-nos para comentários sobre estas "guloseimas".
Como são, a cor da pele, a textura, o calor, o comprimento e grossura. Concluímos então que alguns dos membros viris são tão grandes como hastes, estendendo-se orgulhosamente para a frente, outros são mais pequenos e envergonhados, outros ainda cor-de-rosa e macios como pequenos leitõezinhos, com veias pouco cheias. Mas há-os também de pele escura, mesmo que o homem não seja de raça negra, repletos de grossas veias que lembram a cordoalha dos navios. As curvas e desvios dos pénis também estiveram em análise, alguns parecendo autoestradas sinuosas e outros estreitos caminhos direitos.
O membro masculino pode ser orlado por uma profusa manta de pêlos ou apenas um tufo tímido e ornamentado por grandes ou discretos "enfeites". Existem ainda alguns cheios de força anímica, largos como cilindros, outros de fraca constituição.
Contudo, postas todas estas particularidades e até superficialidades de interesse feminino, chegámos à brilhante conclusão que tamanho não é documento. Apenas a grossura conta realmente e não aquilo que se chama vulgarmente "uma coisa grande". Um tamanho médio mas grosso q.b. basta-nos a todas.
Claro que a perícia do dono desse sortudo pénis é importante, ou de qualquer outro, mas isso são outros quinhentos, pode ser que um destes dias aborde esse tema, quando estiver, quiçá, mais inspirada.
Apenas não resisto a tecer um ou dois comentários sobre a perícia: é que alguns parecem estar confortavelmente "ao volante" de um robusto transatlântico quase em modo de auto-gestão, outros dão a ideia de viajarem à boleia na galáxia do sexo, numa nave cujos constantes avisos luminosos indicam que o suporte básico se encontra em "malfunction" quase permanente, ou ainda outros ostentam o seu material reprodutivo, sempre que podem, orgulhosos do que a natureza lhes deu, não obstante desconhecerem mais ou menos tudo aquilo que a experiencia de um "vintage" não necessita de alarvar.


... nem adianta explicar, pois não?...

quarta-feira, novembro 15, 2006

Pieces of the people we love


A frase não é minha é do grupo pop "The Rapture" ( http://www.piecesofthepeoplewelove.com/ ) e escolhi-a por uma razão de semântica da palavra "pieces" e que imprime um sentido diferente às outras palavras todas .
Isto porque a ideia seria escrever sobre os pedaços, bocados, peças, particularidades das pessoas que amamos: os nossos amigos, familiares, namorados/as, e por aí fora. A palavra em inglês aos meus olhos e ouvidos soa com a intenção absolutamente certa relativamente ao que quero dar a entender neste post.
As pessoas que amamos e as suas coisas particulares, a sua voz, a sua maneira de estar, de andar, o gargalhar ou apenas o sorriso, o cabelo, as mãos, os olhos e olhares ou ainda de forma mais abstracta, os seus pensamentos, ideias, opiniões, colocações perante a vida, os seus ideais, as suas esperanças, as suas vivencias, as quais fazem delas, de cada uma e de todas elas, um universo particular.
Tenho amado algumas pessoas em toda a minha vida, umas quantas de forma intensa, poucas felizmente, mas gosto de todas as que me têm tocado de perto, algumas de forma menos positiva, não obstante revelam-se sempre com alguma utilidade de carácter estruturante.
Algumas características das pessoas são, no meu caso particular, decisivas para as entender. Desde logo a voz, algo que nos vem de dentro do corpo, que é sempre diferente e que me cativa ou repele de forma quase inexplicável. Depois a forma como a pessoa se expressa, independentemente de concordar com as suas ideias ou não, a maneira como a voz se enrrola nos pensamentos, ou como as palavras são ditas, a intenção nelas colocada, o "corpo" que a voz tem, o timbre, marcam a pessoa como uma impressão digital.
A seguir a profundidade do olhar, a maneira como a cor dos olhos preenche o globo ocular, a limpidez, a colocação destes orgãos no rosto da pessoa, a comunicação de caracterologia quase lombrosiana entre a parte superior e inferior do rosto, revela um pouco o carácter e a estabilidade da personalidade do indivíduo. Nada tem a ver com beleza física, apenas com uma noção "privatizada" de equilíbrio.
Não posso esquecer a textura da pele e as mãos, não propriamente se são bonitas ou vulgares, mas a forma como elas bailam à volta da pessoa. É para mim como os enfeites na àrvore de natal; a àrvore sempre existirá contudo os enfeites dão-lhe um encanto todo especial. O ballet das mãos, a postura dos dedos, a forma como completam todo um cenário de orquestração musical com o resto do corpo distingue as pessoas de forma indelével.
Por último a forma de andar que nada tem a ver com um caminhar de passerelle, antes um cunho pessoal que, no meu entender, posiciona a pessoa no espaço que o rodeia e perante os demais. O andar de alguém sugere a sua energia e a noção que tem do seu campo gravitacional.
Todos estes meus gostos podem indicar que dou demasiada importância à aparência das pessoas. Nada mais se afasta da realidade. Por isso escolhi a palavra "pieces" porque, com estas noções, é minha ideia olhar os outros como peças de um puzzle, mas também destrinçar-lhes os bocados da alma que assim expostas dão-me pistas do seu ser, do seu estar.
Por estas e outras razões todos, ou quase todos, os meus amigos e amigas, são cheias/os de singularidades que não encontro em mais lugar nenhum. Digo lugar porque todos nós somos um lugar, somos um país de nós mesmos, sede da nação das nossas almas, estamos e assim ficamos não onde nos colocaram mas para onde decidimos ir, porque para lá caminhamos, sempre em movimento.
Como ilustração digo que os olhos azuis da minha amiga Sofia revelam a alma que a habita, o leve babolear do meu amigo Pedro denunciam a atitude pacífica em tudo e para com todos, a posição das covinhas no rosto do meu amigo Rui espelam a sua inteligencia e sagacidade, o porte altivo da minha irmã E., a sua atitude de rainha subjugando o mundo com o seu frio encanto, o olhar de cachorrinho abandonado do meu amigo Marco revelam a sua imensa carência de afecto, a gargalhada contagiante da minha grande amiga Marta, denuncia a sua força de vontade, o leve arquear das costas de um outro meu amigo revelam alguma subjugação ao mundo que o rodeia e à vontade dos demais, e tantos outros mas não me alongo que a lista seria interminável.
Eu e este cabelo rebelde, entidade própria que devia pagar impostos e ter BI, revelam por demais a minha repugnância às circunstâncias algo inextricáveis da vida e a minha conexão aos princípios da liberdade, o meu andar um pouco felino dá uma noção do meu carácter observador e analítico.
Digam-me, estimadissímos leitores e comentadores deste blog, o que os move e motiva nas pessoas que conhecem, o que lhes salta à vista, não sob aquele princípio da treta dos primeiros 3 minutos, porque ninguém é definível em 3 minutos, mas aquelas pequenas/grandes "pieces of the people you love".

segunda-feira, novembro 13, 2006

Quintas feiras, dias só de gajas...


Às quintas feiras quem quiser saber de mim estou na cafetaria do El Corte Inglês a tomar chá ou chocolate quente (branco, para mim) com as minhas amigas.
Todas solteiras, bonitas e agradáveis, independentes e com um sentido de humor àcido q.b.
Desta feita a conversa, para não fugir às linhas orientadoras gerais foi... homens...
Três de nós não ligam nenhuma aos homens reservando-lhe um espaço meramente coloquial. Bem, provavelmente dizer que não lhes ligamos nenhuma é figura de estilo, apenas lhes reservamos hipotéticamente o mesmo lugar que nos reservam a nós, mas com mais piada.
Contudo uma de nós vive intensamente as suas relações amorosas, apaixona-se com facilidade e anda sempre a sofrer de males de amor, hilariantes por sinal.
Porém, esta quinta feira revestiu-se de uma particularidade diferente: tinhamos audiencia!
Os empregados da referida cafetaria, aos poucos, e fingindo fazer alguma coisa apenas para eles muito importante e absorvente, foram-se abeirando da nossa mesa, bebendo em golfadas as conversas que fomos obrigadas a manter em tom mais velado, mas as gargalhadas eram sinal que algo inegávelmente interessante era ali falado.
O sexo e as manias dos nossos parceiros, mais ou menos longínquos, eram dissecadas ao promenor e as similaridades são muitas. Chegámos, assim, à conclusão que, hoje em dia, existem 3 tipos fundamentais de homens:
- os que não estão nem aí para "gaijas"; os que querem "gaijas" mas não se dão ao trabalho e os que não vêm outra coisa que não sejam "gaijas".
Se calhar não fomos inventar nada e eles sempre estiveram aí mas é interessante abordar as particularidades de cada um:
1º - os que não estão nem aí para "gaijas" são aqueles que dizem que querem apenas fazer amizades, tratam-nos como um dos rapazes, contam anedotas de fazer corar as rameiras e riem alto, mesmo das sequinhas, olham para todas as outras gajas como se fossem a Madona a tirar a roupa, mas são incapazes de nos dizer que aquela saia nos fica bem e nunca têm coragem de abordar nenhuma rapariga sem ser no meio da matilha; são os mestres do "bitaite", mas quase sem ideias originais.
2º - os que querem "gaijas" mas não se dão ao trabalho (os meus favoritos ;)), são aqueles que nos secam com conversas matreiras no msn ou por mail a descrever em pormenor as manobras de amantes que nos levarão à lua e planetas adjacentes, mas no dia em que passamos ao "ataque", porque a passividade não demove esta gente, é certo e sabido que têm sempre mais que fazer, ou porque vão à bola com os amigos, ou porque têm receio de "não se conterem"????...mesmo que os convidemos para um simples cafézinho em local público, arejado e profusamente iluminado, ou já tinham coisas combinadas, independentemente das ocasiões. Posto isto desaparecem sem deixar rasto o que não aborrece ninguém; gosto de os apelidar de "garganta funda", pois à mesma nunca se lhe vê o fundo;
3º - por fim os que não vêm outra coisa que não sejam "gaijas", são os mais comuns e uma raça em constante mutação, muito versáteis, vão acumulando experiencias atrás de experiencias mas o "modus operandi" nunca varia muito de espécime para espécime, são por vezes muito divertidos e simpáticos mas regem-se pela máxima do lobo: têm uma boca maior para nos comerem a todas, uns olhos enorme para não perderem pitada e umas orelhas descomunais mas cheias de pelo para não nos ouvirem. Porém estes estão a passar pelas vicissitudes de uma excessiva oferta não conseguindo distinguir a qualidade no meio da quantidade, e vivem uma espécie de síndrome do aquecimento global, todas lhes dão calores, mas muitos acontecem deles fora de época e por vezes graças a elementos poluentes.
Conforme a conversa foi progredindo, o elemento audiência foi-se acercando mas era notório pelos rostos deles que ficavam, ora divertidos ora semi-aborrecidos, com aquele vago semblante que quer dizer: "estas gajas têm sempre a mania que são muito espertas...!"
E se calhar até têm razão, nós temos sempre a mania que somos espertas mas lá nos vamos safando ou vamo-nos safando deles, conforme as situações.

quinta-feira, novembro 09, 2006

O propósito das coisas




Hoje gostaria de lançar um desafio a todos quantos o quiserem aceitar, quer comentem o conteúdo do meu espaço habitualmente, quer passem por aqui apenas como leitores.
O desafio consiste em comentar tão simplesmente esta frase:

Porque razão criei o meu blog?

Gostaria como dado adicional que indicassem se conseguiram os vossos objectivos.
Agradeço desde já a vossa participação e também todos os comentários, sem excepcção, que já escreveram nesta Divina Comédia.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Dia das bruxas, dos bruxos e outras frustrações...


Alguém meu amigo disse-me há uns dias atrás que devo ter sido vista por uma bruxa, um bruxo ou ando a ser alvo de frustrações alheias de vária ordem.
Bem, quem me lê sabe que sou pragmática o suficiente para aceitar certas coisas com uma postura mais ou menos liberal mas quem me conheçe pessoalmente sabe que não sou de levar desaforos para casa.
Há uns dias atrás recebi a visita ao MEU estimado blog de alguém que, ao ler um dos meus posts, teceu um comentário aceitável em parte e deplorável no todo.
Isto significa que fez reparos aceitáveis a erros ortográficos e alguns outros deplorando o meu estilo de escrita, recomendando que o post em questão fosse publicado na revista "Maria", que confesso não sou leitora assídua.
Não fossem os mails que, de quando em vez me chegam, desconhecia de todo o teor da publicação em causa. E o que conheço não me agrada.
Nada disto teria a mínima inportância se o leitor a que me refiro não tivesse voltado à carga respondendo ao comentário do seu comentário, ainda com mais azedume e espírito de pseudo-intelectualidade e de crítica literária, descabida em todos os aspectos, penso eu, no contexto da blogosfera que, como todos sabem, é um espaço PESSOAL e de desabafos mais ou menos bem escritos.
Partindo da premissa que não se me ajusta o papel de vítima, sou demasiado "bera" para que o perfil me acente de feição, confesso que criaturas desta natureza me mexem com a parte intestinal do meu organismo.
Se não estamos num "local" de vencedores de prémios literários, não obstante a blogosfera ser habitada por pintores, escritores, políticos, músicos e jornalistas, também aqui se alojam pessoas sem pretenções literárias, como é o meu caso e de muitos.
Erros ortográficos todos damos, pode ser deplorável, é-o sem dúvida, mas penso não ser das piores, então porque cargas de àgua se alguem não gosta do que escrevo, perde tempo a cá voltar para deixar lições de moral que não são pedidas nem desejáveis?
Emitir uma opinião sobre algo que lemos deseja-se, óbviamente, mas daí a ter a pretensão de tecer em alinhavos algo sobre a pessoa que escreve e a sua personalidade, não me parece nada saudável.
Já comentei posts referindo algo que não me agradava no post em si, nunca em relação à pessoa, a menos que a conheça pessoalmente e bem.
Por isso hão-de vocês dizer-me porque cargas de àgua alguém perde minutos da sua atenção a ler algo por aqui, ainda por cima publico sempre coisas extensas, para depois ter a ousadia de achar que me pode submeter aos seus maus fígados?
Não se percebe!!!!
O espaço da blogosfera é democrático quanto baste para que, se não nos agradar um tema passarmos ao seguinte, podemos deixar um comentário, porém tenham paciência mas agressividades incoerentes não são para aqui chamadas. Ainda por cima de alguém que não tem blog, é anónimo, logo coloca-se numa posição de outsider por forma a não permitir que se analise o que escreve e como é o seu espaço.


Desculpem-me mas é que não há pachorra para certas coisinhas!!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Esta Areia Fina


Não sei
se o que chamam amor é este apaziguamento.
Não sei se comias fogo. Tuas abelhas
voam agora em círculos traquilos.
Mães serenam seus filhos no ventre,
não sei se o que enfim chamam
amor é esta areia fina.

Agora estamos um dentro do outro,
fazemos longas visitas deslumbradas
porque “o nosso prazer lembra um rio vagaroso
no meio de juncos ao cair da tarde”

As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio
falaríamos melhor de tudo isto.
Não sei se o que chamam amor
é a cama desfeita o sol fugindo,
uma vontade louca de beber
a grandes goles a noite entorpecente.

Com o silêncio, o silêncio sem nome:
morremos a meio do filme
simples, calada, delicadamente.
Eras tu, amor? – Era eu, era eu!

Um barco junto à margem. E cegonhas.


Fernando Assis Pacheco

domingo, outubro 29, 2006

Que lábios já beijei, esqueci quando


Que lábios já beijei, esqueci quando
e porquê, e que braços sobre a minha
cabeça até ser dia; a chuva alinha
os fantasmas que rufam, suspirando,
no espelho, respostas esperando,
e no meu peito uma dor calma aninha
rapazes que não lembro e a mim sózinha
à meia-noite já não me vêm chorando.
No inverno a solitária árvore assim
nem sabe que aves foram uma a uma,
sob os ramos mais mudos: nem sei quais
amores vindos, idos, eu resuma,
só sei que o verão cantou em mim
breve momento e em mim não canta mais.


Edna St. Vicent Millay

sábado, outubro 28, 2006

O aborto de Deus


As noites são cheias de profundos mistérios, são ora quentes ora frias, conforme nos dispomos a olhar as estrelas em estado de reflexão.
No passado apenas as estrelas e pouco mais iluminavam os passos dos homens e das mulheres que se dispunham a caminhar juntos.
Os passos de uns e outros entrecruzavam-se e, aqui e ali encaixavam-se mesmo.
Não digo que não o façam agora, mas as tentativas são mais vãs, ou mais imprecisas.
Assistimos à era do aborto de Deus, que não deixamos de ser todos, apesar de acreditarmos termos sido feitos à sua imagem e semelhança.
A religião e as crenças dos homens são discutíveis e discutidas pelos próprios, bem como os seus propósitos orientadores.
Contudo deparo-me com outras crenças, talvés igualmente cimentadas por esses mesmos homens, pela Humanidade, no seu todo.
Não só as pessoas se afastaram dos seus postulados religiosos, sejam quais forem, como são vistas vezes sem conta a negarem a imagem dos dogmas que os viram nascer.
Ajudar alguém desconhecido, alguém que pede nas ruas, desventuradamente, tão longe e tão próximo de nós todos, parece apenas provocar a repulsa ou a indiferença nos seus congéneres de raça.
Não acredito que quem trabalha e se esforça horas a fio nos seus empregos, deva ter de ser obrigado a sustentar a imensa urbe cheia de mendigos, mas acredito igualmente que não dói dar.
Seja sangue, seja comida, sejam algumas moedas que podemos ter na carteira ou nos bolsos, não digo a mais, mas dispensáveis.
Gosto de olhar os mendigos nos olhos, como olho todos os outros seres humanos, quer quando falo com eles quer quando falam comigo, porque estão lá e não apenas porque são o produto daquilo que a sociedade excreta. Mesmo que seja para lhes dizer não.
São muitas vezes o resultado atróz do nosso excesso de bem estar transformado em adormecida insensibilidade de quem tem, de quem compra, de quem entra numa loja e pode sair de lá com um saco cheio de algo tantas vezes inútil.
Os mendigos da nossa cidade vieram para ficar, estendem-nos a mão de manhã à noite, mas não nos dão os sulcos do caminho dos seus pés para experienciarmos a sua tragédia pessoal.
Da mesma forma não lhes podemos ensinar o caminho do quente dos lençóis lavados das nossas camas, porque essa é a nossa vivência, mas também já foi a deles, de muitos deles.
Por detrás dos olhos secos dos mendigos pendurados nas sete colinas de Lisboa, estão homens e estão mulheres, ainda crianças alguns deles, demasiados deles, e se governos e instituições não podem ou não querem fazer o que devem, compete-nos a nós, felizes comtemplados de cear na mesa opulenta dos tempos modernos, olhar por eles e para eles.
E dar, nem que seja apenas uma vez de longe a longe, ofertar um naco, ínfimo é certo, sem a pretenção de ser a salvação daquela alma, mas resgatá-lo, naquele preciso instante, em que as mãos se estendem em uníssono, um a dar o outro a receber, salvá-lo da imensa ignomínia do esquecimento, mesmo que por segundos.
As crenças tatuadas em forma de números, preços, cifrões, pode ser a crença dos dias que correm e não a da assitência aos menos afortunados, entre outras, porém o verdadeiro prazer que apenas se encontra no eterno da partilha, pois apenas o que é partilhado é eterno, será digno de pertencer à egrégora do colectivo universal.
Isto significa que os males de todos pertencem ao todo, essa é a verdadeira globalização e moramos todos numa aldeia cheia de sofredores e de penosas dores e não pensemos que vamos ter, em breve, a visita do Messias para jantar.
Na realidade estamos todos sentados num imenso banquete de mendigos.